Andei perguntando-me por onde andavas e como seria sua vida. Já faz mais de dez anos que não a vejo agora.
É estranho, não? Naquela época você era uma menininha que parecia tímida, ciente mas alheia à morte de nosso pai. Pouco lembro de sua voz, mas lembro bem do quanto eu identificava coisas minhas em você, traços do rosto, traços do corpo, a forma como meu pai a tratava. Eu sou a caçula e você também, coisas dos tempos de hoje, ou daquela época.
Hoje o Google me contou que você passou no vestibular para Relações Internacionais e que deve começar a estudar no ano que vem. Também me mostrou uma foto de uma moça muito bonita que eu acho que é você.
Que gênio você terá? Será tão curiosa e mimada como eu? E carinhosa e teimosa? E frágil, sentimentalóide, sonhadora, que vive transitando entre seu próprio mundo cor-de-rosa e a realidade às vezes bem diferente? Será que também detesta ser melancólica, mas o é tanto?
Pelo pouco que soube hoje, temos algo em comum: você deve gostar de estudar, ou teve a sorte de herdar a inteligência de nosso pai (tão nova passando no vestibular) e deve andar querendo mudar o mundo (Relações Internacionais?).
Não tivemos culpa do que passou, havia tantos interlocutores entre nós que prefiro pensar que nossas mensagens se perderam e acabaram se tornando comunicados, frios e distantes, hoje amarelados, apagados ou mesmo esquecidos pelo tempo.
Que estes anos tenham passado para você tornando-a não apenas uma bela mulher, mas uma pessoa forte e ainda sonhadora, apesar de tudo. De longe, muito de longe, eu rezo por você e torço que esta nova fase, este mais um recomeçar da sua vida seja lindo.
Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...
Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Trecho da Música Esquadros
Composição: Adriana Calcanhoto
Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras. Às vezes de longe, muito longe.
Um comentário:
Que lindo Gi.
Acho que ela deveria saber do teu interesse, dos teus pensamentos.
E a musica... ate me arrepiei!
Bjs
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