segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A Maçã e o Piano

Ela estava voltando pra casa, à pé, à noite, com uma amiga. Haviam ido a alguns bares, dois na verdade e agora voltavam pra casa caminhando. Precisava urgentemente ir ao banheiro e como a casa de sua amiga era no caminho e antes da sua, foi lá mesmo. A casa era maior do que o usual, interesante e com o mesmo estilo das outras, sua amiga lhe deu uma maçã, uma maçã verde.

Já havia muito tempo desde que tinha comido sua última maçã, nem era sua fruta predileta, mas aceitou assim mesmo, mais pelo gesto do que pelo gosto. Retornou para a rua, para o caminho de sua casa, agora sozinha e acompanhada de uma maçã.

Como era de se esperar, pensava, pensava em tudo, na vida, na morte, nas pessoas, nas chegadas, nas partidas, nas despedidas, em palavras, sentimentos, nas ruas, na cidade, na maçã. Não soube dizer realmente se era efeito de sua imaginação ou não, mas parecia que a mão que continha a maçã estava assim se tornando verde, o mesmo verde da fruta. A princípio achou estranho, depois acostumou, achou bonito e se sentiu protegida, quase invisível, pois tinha um prêmio em sua mão, o prêmio de uma professora, a maçã de Issac Newton.

Caminhou mais um pouco, com uma estranha sensação, olhou para os lados, estava segura, olhou de novo, mais de perto, devagar, e lá estava, dentro da sala, na casa de alguém, a cortina aberta…. ela viu o grande piano de cauda, com sua cauda aberta para a janela e minuciosamente iluminado em pleno verão com luses de natalinas.

Olhou para o piano iluminado, para a maçã em sua mão esverdeada, para sua mente embaçada, para a rua, penumbra. Não soube mais como explicar nada, suas idéias, suas indagações, suas visões, nada. E sentiu um grande alívio em poder dizer – não sei. Respondeu e repetiu para si mesma – não sei.Finalmente chegou em casa e percebeu que apenas a maçã era verde e não sua mão e o piano, bom este definitivamente pertence ao Papai Noel.



Para aqueles que possuem a curiosidade em saber: a maçã foi comida no dia seguinte e o piano continua lá, iluminado, todos os dias.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que delícia de texto! Parece um trecho de livro que com certeza gostaria de ler!

Adorei!

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