Mesmo ela sabendo nada de mim
Eu tive uma vó
Era animada e viajava muito de navio
Andava rodeada de gente
Tudo era pura alegria
Eu tive uma vó
Mesmo sem ela saber nada de mim
Às vezes eu deitava a cabeça no meu sofá amarelo e imaginava que era seu colo, ou de algum outro neto que viesse por ali
Silêncio gostoso e quentinho
Ela gostava pouco de café e trazia sempre suco de uva de fazer bigodes
Uva de verdade
Minha vó de longe sabia escrever e contar histórias
De acalmar os olhos e o coração
Com ela aprendi a guardar segredos
Por vezes andamos juntas pela cidade altas horas da madrugada
Eu tinha uma vozinha minha e herdei dela os óculos de um anel de pedras pretas
Dos óculos eu não gostava
Mas me ajudavam a ver melhor e a brincar com os fios, como ela fazia
Era linda em todas as idades que eu imaginava
Lembro sempre dela quando recolho as roupas no varal e aproveito o vento
Ela queria ser atriz
Comprou uma casa para ela
E ensinou todos os filhos a também fazerem assim
Vou com ela bem devagar tijolinho por tijolinho.
Juliana escreve quando dá saudade de gente que ainda não conheceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário