quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Vó minha

Mesmo ela sabendo nada de mim

Eu tive uma vó

Era animada e viajava muito de navio

Andava rodeada de gente

Tudo era pura alegria

Eu tive uma vó

Mesmo sem ela saber nada de mim

Às vezes eu deitava a cabeça no meu sofá amarelo e imaginava que era seu colo, ou de algum outro neto que viesse por ali

Silêncio gostoso e quentinho

Ela gostava pouco de café e trazia sempre suco de uva de fazer bigodes

Uva de verdade

Minha vó de longe sabia escrever e contar histórias

De acalmar os olhos e o coração

Com ela aprendi a guardar segredos

Por vezes andamos juntas pela cidade altas horas da madrugada

Eu tinha uma vozinha minha e herdei dela os óculos de um anel de pedras pretas

Dos óculos eu não gostava

Mas me ajudavam a ver melhor e a brincar com os fios, como ela fazia

Era linda em todas as idades que eu imaginava

Lembro sempre dela quando recolho as roupas no varal e aproveito o vento

Ela queria ser atriz

Comprou uma casa para ela

E ensinou todos os filhos a também fazerem assim

Vou com ela bem devagar tijolinho por tijolinho.


Juliana escreve quando dá saudade de gente que ainda não conheceu.

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