sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A cura

Ela abriu os olhos e já quis fechar de novo. Tinha esperanças que tivesse sido um sonho ruim, mas não. Ela estava ali caída no chão, com feridas por toda parte. Durante um tempo tudo que fez foi tentar lembrar como tinha parado ali. Não lembrava se tinha pulado, caído, sido jogada. Ficava atormentada com isso, até que percebeu que isto não ia fazer a menor diferença naquela altura dos acontecimentos.

Foi aí que decidiu começar a cuidar das feridas, e aos poucos foi se ajeitando à medida que dava. Resolveu não ficar mais no chão, mas ainda não conseguia levantar. Decidiu pelo menos se sentar, olhar pra si mesma, ter noção do estrago. E assim, aos poucos ela foi se curando, se recuperando, deixando o tempo passar e as dores diminuírem.

Depois de um certo tempo ela já estava bem melhor, mas cultivava algumas daquelas feridas, quase como se elas fossem de estimação. Dizia que queria que elas melhorassem, mas no fundo queria que elas continuassem assim, abertas, doídas, pra ela lembrar que era perigoso estar de pé. Ela sempre poderia cair e nunca saberia o tamanho do estrago da próxima vez.

Mas um dia deu vontade de tentar de novo, e mais rápido do que ela podia imaginar que conseguiria, ela se viu de pé. A sensação dos pés no chão, ainda que um pouco desequilibrados, era tão boa que ela se perguntava como conseguiu adiar este momento. Ela ainda tinha medo de cair, então ainda não tinha coragem de sequer dar um passo. Ela ainda não se lembrava se tinha pulado, caído ou sido jogada, mas curtia o chão sob os pés, sonhando com a hora que voltaria a caminhar e tendo a certeza que um dia ela não só correria novamente, mas voaria atrás dos seus sonhos.

Sisa escreve aqui às sextas.

6 comentários:

Professora Vanessa disse...

Muitas vezes, Sisa, ficar de pé e olhar para frente é um grande desafio. Seu que gosta de desafios...
Bjo grande, amiga!
Saudades...
(Quando voltas?)
Vanessa.

Gisele Lins disse...

Engraçado, né? Às vezes a gente fica mesmo rançando pra querer se levantar de um tombaço, só pensando que vai ser difícil pra caramba, mas quando vem a coragem, um belo dia olhamos para trás e percebemos que passou quase sem a gente se dar conta!
Viva as mulheres corajosas deste mundão, Sisa!
Beijão!

Unknown disse...

Ahhh Cecilia,

É mesmo muito duro cair e nao ter forças pra levantar, mas a sensaçao de ver que somos sim capazes de levantar, correr e voar é muito boa e entao estamos prontas para recomeçar sem dor... e se lá na frente cairmos de novo, ainda que achemos que nao somos capazes de levantar de novo, temos mais forças para lutar... A vida é assim, feita de tombos, tropeçoes e recomeços... ainda bem!!! Bjs
Vi

Anônimo disse...

Ontem eu ouvi de uma pessoa muito importante que eu penso o pior das situações porque preciso me sentir mal. Como se fosse uma defesa me fazer de vítima. Eu não acho que seja tanto assim, enfim, mas eu agora procuro estar sempre de pé e voltar a andar de cabeça erguida. Tem momentos que pensar em como ocorreu o tombo não faz diferença e sim como seguir em frente.
Bjos.

Angel disse...

Os tombos são duros, mas erguer-se é uma das mais prazeirosas sensações... tudo de bom!
Pode demorar, mas a cura é certa quando depende de nós.

Beijos!

Paula disse...

É assim mesmo: a gente cai, levanta, cai, levanta... E vai criando calo e suportando cada vez mais. Se existe limite? Claro! Mas tenho certeza que o seu ainda está longe, minha amiga! Você é feita de material nobre: amor, verdade, companheirismo, coragem; e pouca coisa pode te vencer!

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