terça-feira, 14 de julho de 2009

Somos todos iguais?

Mesmo quem, como eu, tem tido pouquíssimo tempo para se inteirar das notícias, sabe que os deuses do Olimpo brasiliense acreditam ser seres melhores e com muito mais direitos que qualquer um de nós. E para criticar, todos enchemos a boca e falamos ao ar palavras vazias de revolta.

Mas bem perto de mim acontece um episódio tão parecido que é impossível aturar. É muita hipocrisia. Muita falta de humildade.

Moro no Rio Grande do Sul, estado com forte contaminação pelo vírus da nova gripe, em função da proximidade com os países hermanos.

Estamos no inverno, o que já basta para aumentar a incidência de gripes, resfriados e toda sorte de doenças respiratórias.

Pois bem, pasmem ao saber que neste contexto, os médicos da prefeitura = servidores municiais, paralisaram suas atividades POR 3 DIAS!!! Eles exigem um aumento salarial de 120% e estão usando a saúde das pessoas como moeda!

Disseram e assinaram embaixo que não cumprem o horário de trabalho de 4 horas diárias, pois recebem muito pouco; que não são quaisquer profissionais, são especiais, pois levam 15 anos para formar-se. Acho que é tempo demais, e nesse tempo eles esqueceram o juramento que fizeram ao formar-se.

Nesse período de paralisação, os poucos médicos que não aderiram só podiam atender urgências. Eu me pergunto: será que estamos neste ponto avançado da medicina que apenas com um olhar o médico sabe com certeza o que é urgente e o que pode esperar ele receber o salário que acha justo?

Fosse assim, não haveriam escolas no Brasil, apenas professores não fazendo o que estudaram para fazer e o que se propuseram a fazer quando aceitaram o cargo, esperando por um salário justo.

Será que estes médicos aprenderam tanto sobre fisiologia e anatomia, mas nada sobre ler um contrato antes de assinar? Nada sobre ética? Nada sobre o valor de uma vida?

Meu filho, se tu aceitou um cargo para trabalhar X horas e ganhar Y de salário, era isso. Se um professor para um dia para protestar (com muito mais razão, pois o salário é beeeem menor e a responsabilidade, em minha opinião, até maior), pode ter certeza de que vai compensar com o aluno e pagar aquelas horas.

Não gosta, não precisa penalizar a saúde de um município em meio a uma crise, para lutar pelo que acha justo. Parece até aquela situação citada no início, de que algumas pessoas são mais iguais que outras.

Renata ouviu muitas histórias de gente andando a pé na chuva com criança no colo, sem dinheiro nem pra ônibus, tentando achar um médico com o mínimo de comprometimento com a saúde pública, que ficou extremamente indignada. Espera que existam médicos, assim como outros profissionais, motivados pela vocação e, acima de tudo, éticos. E que saibam que são gente como eu e você. E como o bebê no colo na chuva.

2 comentários:

Andrea Pio de Abreu disse...

Oi Milena.
Digo que é - no mínimo - triste para um médico ler este texto. Assim como eu, muitos não concordam com greves e paralizações. Mas uma minoria se faz ouvir, porque basta a ausência de um, para a carência de muitos pacientes.
O caminho não é este certamente. Qual exatamente deve ser, para uma melhor valorização, eu não sei... mas virar as costas para aqueles que precisam de nós... certamente não.
Abraço,
Andrea

Andrea Pio de Abreu disse...

Corrigindo... acho que foi a Renata que escreveu.
Abraço,
Andrea

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