quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Agosto

O mês de agosto para mim é praticamente uma pessoa, um ser mitológico que todo ano eu tenho a certeza de que vou encontrar em algum momento entre o carnaval e o natal. Costumava esperar temerosa por este encontro, pois ele sempre foi o ceifador de muitas coisas, A Torre do tarô, que desaba para que o novo possa surgir.

Faz dez anos que eu passei a observar este ser com medo, mas curiosidade. Em agosto de 1999 meu pai faleceu. Em agosto eu decidi trancar a faculdade e ir para Londres, em agosto eu decidi realizar um grande sonho e viajei sozinha pela Irlanda, em agosto eu decidi voltar para o Brasil, em agosto eu voltei para a faculdade, agosto eu terminei a faculdade, em agosto um chefe me mandou embora arrancando os cabelo e gritando “eu não quero mais trabalhar contigo, eu não quero mais trabalhar contigo” e no mesmo agosto outro chefe me ligou e me fez decidir ir embora da minha terra e encontrar meu caminho em um lugar onde, mesmo reclamando muito, estou feliz.

Agosto pra mim é o ápice de qualquer coisa que eu esteja vivendo. Em algum momento começa um incômodo, um desencantamento, um faniquito, um formigueiro no traseiro, uma ânsia quase sempre de não sei o que. E a casa cai, eu brigo, luto, me esfolo, nado contra a corrente de vestido com dentes e punhos cerrados. Dúvidas, dúvidas, dúvidas dançam ao meu redor regozijadas por saberem o desespero que eu fico quando tenho que fazer escolhas. Escolhas é o que agosto me traz, sempre. Ele sempre vem acompanhado por um evento inesperado. Daqueles que não faziam parte do meu rol de “ou isso ou aquilo” e me pegam com as calças na mão. E agora? Eu nunca tinha pensado nisso, mas é uma boa idéia. Hi, mas pra isso eu tenho que abrir mão daquilo e blá blá blá. Só que eu não me dou conta. Passo por este processo todo ano (que pode começar em abril, julho ou em agosto mesmo) e só percebo depois de tudo sofrido, tudo escolhido, e, geralmente, tudo mudado. Daí eu me lembro: puxa, é mesmo, é agosto, caramba.

Também acontece de ficar do mesmo jeito depois que passa o turbilhão. Como no ano passado. Mas aí o que resta fica convicto. O que antes estava “mais ou menos, eu não sei bem” passa a ser assim e pronto, definitivo. Até o próximo agosto.

Esse é meu último agosto na casa dos vinte e a primeira vez que eu percebi que ele estava chegando. Pela primeira vez também eu respirei fundo, fechei um olho e disse “tá bem, fio, vem logo, bagunça logo”, pois o que sobra sempre foi inesperado e doído, mas acabou sendo melhor do que antes.

Que venham meus novos agostos, trazendo como cegonhas as mudanças da vida, doídas, mas que eu adoro.

Gisele Lins, “agostando” e feliz com as coisas novas, escreve aqui às quartas-feiras.

4 comentários:

Nínive disse...

Nossa...mt showww...lindo mesmo...
pra mim agosto é o melhor mês do ano..não so pq é o meu mês ms pq..sei la ele tem um mistério...algo diferente...e tbm depois dele parece q os meses passam rapido e...pimba!!! cabou o ano...

Parabéns pelo texto!!

Anônimo disse...

De 2005 pra cá, meus agostos são acompanhados pela alegria de mãos dadas com a tristeza, pois é o mês do meu aniversário (8) e com os dias dos pais, sinto saudades do meu que já se foi.
O deste ano deve ser um pouco mais animado porque será o último que vou passar no Mackenzie e neste ano me formo.

Angel disse...

Que venham coisas novas e boas para esse agosto.

Uma coisa boa é que vamos comemorar aniversário de blog... Parabéns pra nós!

Bjos!

Lila disse...

Tantas coisas aconteceram e de novo nao te destes conta que era agosto.
Ou sim?

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