Aqueles afortunados e mais chegados de Anastácia já o sabiam, ela tinha o dom, o dom da escolha. Por vezes até acertava e quando isso acontecia podia-se ter a certeza de que o programa era bom mesmo, mas no geral a infeliz tinha o dom de escolher programas literalmente de índio. Diga-se de passagem que isso não se resumia apenas a festas, shows e estabelecimentos, mas também a filmes, sim, logo, DVDs e cinema sugeridos por Anastácia eram ótimas deculpas para se tomar aquela cerveja antes, pois o pior quase sempre estava por vir. Não era algo que a incomodava, nem ao seus amigos, na verdade, já era mesmo motivo de risadas, algo cômico, mais uma de suas peculiaridades.
No entanto nem sempre isso acontecia com seus amigos, mas com pessoas que ela ainda estava por conhecer e, aí sim, Anastácia tinha vontade de sumir, entrar chão adentro e só reaparecer na próxima semana. É, e nesse fim de semana não havia de ser diferente, mais uma vez o dom se pronunciou, e lá se foram Anastácia seu mais recente amigo.
Pra iniciar a noite, o mapa da festa estava errado, como sempre acontece, após algumas voltas e retornos, em fim chegaram; ambos esfomiados, aguardando ansiosamente o churrasco. A música ía do funk ao pagode, a vontade de desaparecer já estava passando pela mente de Anastácia e pra completar o programa, a carne, salgada e crua, ao mesmo tempo. Se alguém já viu algo parecido, por favor que se manifeste imediatamente. Se entreolharam, tiveram vontade de rir, afinal, é o melhor a se fazer em tais situações. No final das contas comeram farofa, vinagrete e arroz, definitivamente, sem carne. Foram embora com aquele desejo de churrasco e Anastácia pra já deixar as coisas claras avisou – me desculpe mas preciso te falar, eu tenho o dom, eu sou o Mestre Yoda dos programas de índio.
Para todos aqueles que de vez em quando ou de quendo em quando se sentem um verdadeiro Mestre Yoda.
Terá sido tão de repente assim? Desaceleramos muito com a proximidade dos 40. Aprendemos a caminhar apreciando o caminho ao invés de correr loucamente para chegar sabe-se lá onde. Descobrimos que todas queremos chegar lá, e que o lá de cada uma é diferente. Aprendemos a olhar de dentro para fora. Muita coisa aconteceu nesta década. Crianças nasceram, animais de estimação se foram, relações se fortaleceram, outras, desvaneceram. Aprendemos muito. Principalmente que dividir só nos faz melhores.
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