Tem alguma coisa errada. Só podemos ser muito manipuláveis, muito sem opinião, ou muito burros mesmo para permitir que os nossos meios de comunicação façam o que estão fazendo. Pelamordedeus!
Mais de duzentas pessoas morrem em atentado terrorista nos Estados Unidos. A madrasta paquita ciumete maluca e o pai (pai?) desnaturado jogam a menina da janela. O piá mimado que levou o fora da namorada encontra um jeito de chamar atenção, como sempre o fez, e acaba matando a menina. O mundo finalmente descobre que “crédito” não é moeda virtual e não pode existir sem reserva de dinheiro, garantia e fiador. Está instalada a maior crise financeira mundial de todos os tempos.
Sim, são atrocidades, sim é um horror, sim, é o cúmulo, mas tem cabimento o furdunço que faz nossa TV, rádio, jornais, Internet e afins? DUZENTOS americanos como se fosse toda a população do planeta dizimada! Sim, são muitos, mas e as crianças que morrem de fome na África todos os dias? E as vítimas de acidente de trânsito no Brasil, são quantas? E quantos padeceram sob as mãos do Tio Sam? E o que influencia na sua vida assistir à defenestração da pobre menina com simulação 3D em tempo real? E saber até a cor da cueca do chefe de polícia, atolado no caso com a pressão da mídia (e obviamente sem ter condições/ contingente de investigar o assassinato da filha da empregada da sua vizinha, que não é filha de advogado nem de rico, mas que foi jogada da janela a três bairros do seu)? E ver os milhões de sem noção que vão aos enterros televisionados ao vivo, como o da pobre adolescente assassinada, até com cartazes de “filma eu Galvão”, loucos para aparecerem na telinha e obviamente muito desocupados. E quanto à crise? Esqueça o peru de natal e se eu fosse você começava a cavar um buraco na sala para armazenar COMIDA porque o que vem por aí é tão terrível que nem dá para imaginar. Hipócritas, urubus da tristeza e desgraça alheia, assim como todos nós, quando às vezes caímos nestas armadilhas sem nem nos darmos conta. Precisamos disso?
Milhões de horas de comunicação de puro alarmismo e manipulação dos sentimentos das pessoas, que ao som de música de filme de terror lá ficam como zumbis, estateladas em frente à TV, rádio, jornal, Internet e afins, que por sua vez vendem milhões em propaganda nos intervalos a cada 15 segundos de programação, nas páginas centrais, iniciais, finais, laterais das revistas, nas barras de ferramentas auto-instaláveis, pop-ups insuportáveis, cabeçalhos que ocupam três quartos da página dos sites e blá, blá, blá, blá.
É a indústria (ou máfia) da mídia, que des-ensina valores e depois se alimenta de apontar horrores para quem se dispõe a assisti-los (e devemos ser muitos, pois o número de programas emburrecedores e divulgações de má qualidade cresce cada vez mais, não?). Onde o questionamento, a crítica ao absurdo? Onde a sugestão do que eu, você, a vizinha podemos fazer para melhorar este nosso mundo que é tão lindo, mas que anda tão pintado de podre? Onde a nobreza de se ignorar a manipulação, o que não vale a pena, justamente para não valorizar, não dar IBOPE ao que não presta? Onde o exemplo de coisas que deram certo, de iniciativas pequenas e belas, daqueles que ainda acreditam que tem jeito?
Os ligados, opinados, plugados, que me perdoem, mas eu tenho preferido ser alienada e mais feliz, tentando fazer a minha parte, no mínimo que seja, a me render ao mar de pânico que estão tentando nos vender.
Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras, enquanto o mundo não acabar e ela nem ficar sabendo. Escreveu este texto antes do desastre de Santa Catarina tomar as proporções que tomou e, felizmente neste caso, está aliviada pois tem a impressão que as pessoas estão dando mais atenção aos apelos de ajuda do que ao sensacionalismo barato (mesmo ele também estando à disposição) . Pede desculpas às exceções, que costumam passar despercebidas, quando deveriam ser as protagonistas .
Um comentário:
Também faço parte da massa alienada.
Vem junto com o cargo, eu acho...
bjos
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