segunda-feira, 25 de maio de 2009

Passando para frente


A dar o que não se usa mais, desde criança Anastácia havia apreendido. Por vezes reclamava, especialmente no Natal, quando aguardava ansiosamente por outra boneca para fazer companhia a sua boneca antiga, e, contudo, a antiga tinha que ser passada para frente, uma vez que muitas crianças não possuiam nenhuma e ela não iria, portanto, manter as duas, e isso foi acontecendo com todas as outras coisas também, e assim por diante.

Com o passar dos tempos Anastácia percebeu que era assim que deveria ser, era o certo a se fazer. Coisas antigas, roupas guardadas sem uso, briquedos a mais, livros já lidos, cds que não eram mais apreciados, em fim, uma infinidade de objetos que com as mudanças dos anos e a construção da personalidade, se deixa naturalmente de gostar, usar, servir.

Agora ela fazia de bom grado, e com uma sensação de leveza, arrumava, experimentava e tinha a certeza - isso vai! Doava para instituições de caridade, dava para amigas e, por vezes, até vendia. Tudo se transformava, renovava, passava para frente, pois ela sabia que com certeza alguém precisaria, ou apenas desejaria o objeto que para Anastácia já não significava mais o que foi um dia. Agora sempre que algo novo entrava, outro tinha que sair, e assim por diante, como havia de ser.


Silvia escreve as segundas-feiras, vez ou outra, apenas passando pra frente.

5 comentários:

andreia disse...

eu tb tenho esse costume de me desfazer de algo, para o novo entrar, tb relutava na infância, pois minha mãe, muitas vezes, se desfazia de algum brinquedo especial,mesmo não mais usado.
hj fico bem, e feliz, qdo encontro novos espaços, e me desfaço do que pra mim não é mais útil, mas para uma quantidade enorme de pessoas é.
bjs

Gisele Lins disse...

Puxa Silvia e Andreia, admiro isso em vcs. Eu até tento, mas pra mim é bem difícil desapegar (eu acabo emprestando um valor sentimental à tudo, pois foi fulano que me deu, pois foi desta ou daquela época tão boa). Ai, ai, um dia eu chego lá!
Beijão!

Lila disse...

Tbem nao consigo...
Vale se desfazer de uma meia quando compramos calca, bota e casaco? ;-)

paulo fernandes disse...

Silvinha ainda sustento a ideia de que deveria escrever um livro. beijocas pipocas e tapiocas

Carlinha disse...

Silvia, tb tenho o costume de me desfazer das coisas que não uso. Nem sempre é quando compro coisas novas. Mas vez ou outra dou uma geral em casa e separo coisas para doar. Inclusive coisas que tenho apego. É uma atitude muito positiva, pq além de beneficiar outras pessoas vc ainda renova as energias.

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