sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O dia em que o mundo (quase) parou

Lá vem ele, o cavaleiro negro, carregando no nome as origens muçulmana e queniana, para tomar posse do mais importante cargo político daquela que já foi um dia a grande potência mundial: Barack Hussein Obama. No púlpito, presta o juramento que ali também prestou Abraham Lincoln, inclusive sobre a mesmíssima Bíblia (Estado laico?) e passa, oficialmente, a carregar a responsabilidade pela salvação do mundo. Na melhor das hipóteses, passa a representar o início de uma Nova Era. 

Comparado a Lincoln, responsável pelo fim da escravidão nos Estados Unidos, Barack Obama inquestionavelmente carregará pelos próximos anos um grande peso. Ao aceitar a comparação com um líder da grandeza do primeiro presidente republicano eleito, mais ainda, ao declaradamente inspirar-se nele, Barack Obama traz para si um enorme desafio. A pergunta que não quer calar: será Barack Hussein Obama um Presidente à altura de Abraham Linconl? A História se encarregará de me responder esta pergunta.

As palavras proferidas em seu discurso de posse são de fato fortes. Palavras de alguém que parece ter os pés no chão. Mas será? Obama admite: o juramento é feito em meio a nuvens carregadas e tormentas violentas. O mundo está novamente passando por uma transformação profunda. O correr de olhos na cronologia dos fatos mais importantes da História ocidental – corrija-me, Tânia, se eu estiver enganada – permite a previsão de momentos de crise, crises estas nunca evitadas. Como a crise pela qual passamos agora.

Em 1929 houve uma crise de superprodução. Ações de empresas de produção industrial e agrícola valorizaram-se absurdamente, estimulando a especulação. Papéis sem lastro circulando descontroladamente Estados Unidos afora e a quebra da Bolsa de Nova York acabou realmente deprimindo meio mundo (desculpem o trocadilho – foi inevitável). Vindo como um milagre, o New Deal foi a luz no fim do túnel e, entre mortos e feridos, houve quem se salvasse. Tanto é que cá estamos nós provando que a História é feita de ciclos. Quase cem anos depois da Grande Depressão, outra crise. Desta vez, uma crise que se iniciou no mercado imobiliário norte americano e acabou desaguando no mesmo mar de 1929: crise de super crédito, ou de títulos vulgarmente conhecidos como “sem fundo”. Novamente a falta de lastro. O calote do século. E olha que o século mal começou. O que consola é que tudo leva a crer que crises assim só acontecem uma vez a cada cem anos mais ou menos. Em 1929, o mundo via esperança em Franklin Roosevelt, outro Presidente que fez História. Outro peso nas costas de Barack Obama.

Foi além de seu discurso Barack Obama: citou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e suspendeu os julgamentos em Guantánamo um dia após sua posse. Será esta determinação um indicador de um mundo mais civilizado? Melhor, de um mundo mais humano? Sob o escudo da defesa da liberdade, os Estados Unidos declararam guerras, prenderam, torturaram, mataram. Parece-me que a defesa da liberdade é um grandessíssimo engodo: o moto-gerador sempre foi a ganância, a fome de poder e aí veio o terror. Como lutar contra quem se dispõe a morrer por sua crença, por uma ideologia, por coisas que não são mensuráveis e não têm preço? É, Barack, herdaste mais um desafio. Creio que mais difícil que resgatar a economia mundial. Só espero que, vitoriosa a “guerra contra o terror” – apenas para se considerar uma hipótese – não se instalem outros Guantánamos e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão volte a ser só um quadro na parede.

Eu poderia passar a noite inteira relacionando trechos do discurso de posse do atual Presidente norte-americano a passagens da História ocidental – hoje mundial e globalizada -, muitas vezes verdadeiras aberrações egocêntricas (e sempre atendendo a interesses financeiros) daqueles que um dia detiveram o poder. Vietnã, Afeganistão, Kwait, Iraque. O comunismo, coitado, já era. Quer ser comunista? Vai nessa, azar o seu. Mas deixe os monges de Burma serem mortos por lutarem por liberdade, lá não tem petróleo mesmo! Deixem os palestinos serem massacrados por Israel por causa do Holocausto, a despeito de esta nova guerra santa já ter matado quase três vezes mais palestinos do que judeus foram mortos. Mas não vou fazer isto. Vou simplesmente ler mais uma vez o discurso do homem a quem foi imputada a responsabilidade por consertar o mundo, por promover a paz mundial, a união dos povos, a divisão de riquezas, a igualdade social. E vou guardar. Quero reler daqui a alguns anos. 

Acho que as pessoas estão colocando nos ombros deste homem uma carga pesada demais. Estão subtraindo-se à sua própria responsabilidade. E tenho pra mim que ele erra ao buscar declaradamente ser um grande líder, ao comparar-se com nomes históricos, ao aceitar tamanho encargo. Grandes líderes não são forjados desta maneira. Grandes líderes não são forjados. Grandes líderes simplesmente o são. E ainda não houve tempo para sabermos se Barack Hussein Obama será um grande líder ou apenas o Super-Homem do New Deal, com uma nova roupagem, para tentar recuperar a auto-estima do povo norte-americano. A História já nos mostrou que a busca pela recuperação da auto-estima de um povo pode ter conseqüências desastrosas. Mas tenhamos fé, tenhamos esperança. Afinal, são sentimentos exclusivamente humanos. E não nos esqueçamos de que o ser humano erra, mas só não erra quem não faz.

Laeticia têm fé e esperança, não em um presidente que não escolheu, de um país onde não vive, mas de que com o passar do tempo as pessoas terão consciência de todos dependem uns dos outros e se tornarão pessoas melhores, para um dia serem dignas do título de humanas.

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