quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Inferno Astral

Então, chegue logo sexta-feira, porque será um dia a menos para a vida maravilhosa que eu sei que terei num futuro nem tão distante.

Futuro onde festa se vende como festa, e não com nomes próprios (Batizado, Casamento, Aniversário) que possuem a mágica de quintuplicar orçamentos dependendo de sua nobreza. Onde não me olham com cara de pena porque quero casar com um vestido camisola, que me permita dançar muito, e não com um vestido bolo com cinco saias de armação, que me tornará uma princesa ridícula e engessada. Futuro onde casar de cabelo solto e pés no chão, possa sim representar o despojamento que eu acredito que mereça um “sim, nós nos viemos nos agüentando e queremos continuar felizes juntos, por opção”, o invés de representar o absurdo do século.

Futuro onde não é necessário ligar para a ouvidoria de um tele-qualquer para agradecer pelo bom serviço, pois o bom serviço, e não o roubo, o desrespeito, a mentira, o descaramento, a exploração, é que deveria ser o padrão.

Futuro onde não se espera três horas para um atendimento no pronto-socorro, quando se tem plano de saúde, e trinta horas quando não se tem.

Futuro numa cidade onde quem presta qualquer serviço sabe que levará doze dias para ficar pronto, e não dois, e ainda assim vai preferir dizer a verdade a conquistar um cliente com algo que certamente não vai cumprir. Futuro numa cidade onde as coisas não funcionem das nove às onze e das duas às cinco, e onde, para qualquer coisinha a ser resolvida, não seja necessário pelo menos cinco tipos de documentos, assinados por pelo menos três pessoas, em quatro vias, e com validade de um dia.

Futuro onde ninguém se acomoda por chegar à conclusão de que não vale a pena, onde todo mundo põe a boca e exige dos outros o mesmo tanto que dedica de si, e que no fim, se tenha resultados com isso.

OK, vai, futuro numa casa bem parecida com a que eu vivo hoje, com a Pantufa e pelo menos mais um cão para fazer companhia para ela. De preferência com uns dois ranhentos correndo na grama, fazendo eu e o Sr. Puko rirmos muito. Neste futuro podemos também estar em casa sem fazer nada, mas sabendo que eu não fomos ao teatro, ao cinema, a um dentre os cinqüenta botecos de que gostaremos, à balada com aquela banda legal, à casa dos amigos que estão fazendo um churrasco, simplesmente porque nós é que não quisemos ir, e não porque nada disso estivesse lá.

Um futuro comigo mais tranqüila, sem saber que estômagos e articulações existem, onde ando de bicicleta na praia, vou para a academia porque gosto e tenho uma espreguiçadeira divina, com almofadões de tecido listrado em azul marinho e branco, ao lado da espreguiçadeira do Sr. Puko, pra discutir estratégias para os desafios que teremos, pra ler de chapéu os vinte livros por ano que quero voltar a ler, pra fazer cafuné, pra planejar as férias na Índia, pra escrever cartas à mão para os amigos de longe, como sempre gostei e há tanto não faço.

Um dia a menos para um futuro onde se anseia por aniversários e nunca se diga que não se agüenta mais.

Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras, a dois dias de se tornar verdadeiramente uma mulher de 30. Que seu inferno astral fique logo para trás.

2 comentários:

Renata disse...

Agora você já é oficialmente uma mulher de 30 e espero que o inferno astral tenha já ficado para trás!!
Parabéns pelo aniver e beijão pra ti!!

Anônimo disse...

Happy Birthday to you, Happy Birthday to you...
Para tudo!!!!!
Da pra parar e simplesmente comemorar mais um aniversario sem se questionar tanto? Uma vezinha so vai, faz um esforco?
hahahahaha
Impossivel, cabeca pensante, sempre pensante...

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