Minha primeira experiência com gente em cima do muro foi ainda na época do colégio. Nem me lembro mais qual era a situação, mas me lembro que uma pessoa que eu considerava amiga não tomou partido, deixou que falassem mal de mim perto dela sem se manifestar. Aos quatorze anos isto faz toda a diferença pra gente.
O tempo foi passando e fui percebendo que o raro são justamente as pessoas que tomam partido, que se posicionam, que guardam coerência entre palavras e atos. Não consigo deixar de achar no mínimo estranho, porque lá em casa me ensinaram a ter opinião, a sustentá-la e a arcar com as conseqüências disto, independentemente de quais fossem.
Daí que às vezes acho que me tornei uma daquelas pessoas “ame ou odeie”. Estou certa de que muitas vezes fui tomada por arrogante, coisa que não sou. Mas formo opiniões sobre os mais diversos assuntos, inclusive aqueles que não são da minha conta porque não são da minha conta – caso em quê guardo minha opinião pra mim até que alguém me pergunte o que penso – e aquelas que não são da minha conta porque dizem respeito a uma estrutura na qual minha existência é simplesmente insignificante, senão desconhecida, e, portanto, sequer vão tomar conhecimento dela – como, por exemplo, a forma como uma empresa é administrada, uma instituição de ensino avalia seus candidatos, se o projeto de lei que prevê gorjeta pros garçons de 20% do valor da conta deve ser aprovado, se a Marina Silva é uma boa candidata à Presidência, etc. Mas eu sou aberta à mudar de opinião. Basta que me dêem argumentos.
Talvez pelo fato de estar sempre expressando minhas opiniões, eu me sinto muitíssimo incomodada com gente que não tem ou não divulga seus próprios pensamentos. No maior estilo de quem acha que vai conseguir agradar a todos o tempo inteiro. Lastimável.
Outro dia me perguntaram o que eu achava de determinada pessoa. Minha resposta foi retórica: é pra ser sincera ou agradável? (Tenho tentado deixar de ser uma pessoa “ame ou odeie”, mas acho que minha pergunta-resposta teve efeito justamente contrário...) Seja sincera, me responderam. E lá fui eu destilar minha ácida opinião a respeito do cidadão: acho que se ele se deparar com um tapete verde é capaz de cair de quatro e começar a pastar achando que é grama!
Olha o veneno escorrendo no canto da boca, Laeticia! Uai, mas não era pra ser sincera? Ah, acho que ele está no caminho certo, tem boa vontade, se esforça e vai acabar aprendendo a ser mais polido com as pessoas. É uma outra resposta, bem mais agradável, mas que tecnicamente tem o mesmo significado da minha resposta sincera: o cara É um cavalo (os cavalos que me perdoem), porém, sem um pinguinho sequer da conhecida elegância eqüina.
Ocorre que muita, mas muita gente mesmo, concorda comigo. Também acham o cara um grosso, mal educado, rude, desagradável, deselegante e, considerando que seu trabalho é justamente lidar com pessoas, incompetente. Na minha frente, dizem que concordam plenamente comigo. Mas quando o eqüino bípede chega, sou obrigada a agradecer aos céus por não ser diabética. Porque aí as pessoas tornam-se subitamente tão doces que seriam capazes de afetar a quantidade de glicose no meu sangue! Ou seja, GENTE QUE NÃO SE POSICIONA! GENTE QUE NÃO TEM OPINIÃO! E pior: GENTE QUE NÃO TEM VERGONHA NA CARA!
Quer coisa pior do que gente assim? Há pessoas que chamam esta característica de diplomacia, outros chamam de falsidade, eu chamo simplesmente de falta de caráter, de dignidade. E eu tenho medo dessa gente. Porque são pessoas com as quais sei que não posso contar. São pessoas que, ainda que concordem comigo, jamais vão se expor, muito menos fazer coro às minhas palavras. São pessoas que sempre dançarão conforme a música, que não tentarão mudar, que nunca farão a diferença. São pessoas que, dependendo dos acontecimentos, vão sempre pular de um lado pro outro do muro e, sendo possível, vão passar a vida inteira se equilibrando em cima dele, mas que nunca farão parte de nada, nem de lugar nenhum.
O tempo foi passando e fui percebendo que o raro são justamente as pessoas que tomam partido, que se posicionam, que guardam coerência entre palavras e atos. Não consigo deixar de achar no mínimo estranho, porque lá em casa me ensinaram a ter opinião, a sustentá-la e a arcar com as conseqüências disto, independentemente de quais fossem.
Daí que às vezes acho que me tornei uma daquelas pessoas “ame ou odeie”. Estou certa de que muitas vezes fui tomada por arrogante, coisa que não sou. Mas formo opiniões sobre os mais diversos assuntos, inclusive aqueles que não são da minha conta porque não são da minha conta – caso em quê guardo minha opinião pra mim até que alguém me pergunte o que penso – e aquelas que não são da minha conta porque dizem respeito a uma estrutura na qual minha existência é simplesmente insignificante, senão desconhecida, e, portanto, sequer vão tomar conhecimento dela – como, por exemplo, a forma como uma empresa é administrada, uma instituição de ensino avalia seus candidatos, se o projeto de lei que prevê gorjeta pros garçons de 20% do valor da conta deve ser aprovado, se a Marina Silva é uma boa candidata à Presidência, etc. Mas eu sou aberta à mudar de opinião. Basta que me dêem argumentos.
Talvez pelo fato de estar sempre expressando minhas opiniões, eu me sinto muitíssimo incomodada com gente que não tem ou não divulga seus próprios pensamentos. No maior estilo de quem acha que vai conseguir agradar a todos o tempo inteiro. Lastimável.
Outro dia me perguntaram o que eu achava de determinada pessoa. Minha resposta foi retórica: é pra ser sincera ou agradável? (Tenho tentado deixar de ser uma pessoa “ame ou odeie”, mas acho que minha pergunta-resposta teve efeito justamente contrário...) Seja sincera, me responderam. E lá fui eu destilar minha ácida opinião a respeito do cidadão: acho que se ele se deparar com um tapete verde é capaz de cair de quatro e começar a pastar achando que é grama!
Olha o veneno escorrendo no canto da boca, Laeticia! Uai, mas não era pra ser sincera? Ah, acho que ele está no caminho certo, tem boa vontade, se esforça e vai acabar aprendendo a ser mais polido com as pessoas. É uma outra resposta, bem mais agradável, mas que tecnicamente tem o mesmo significado da minha resposta sincera: o cara É um cavalo (os cavalos que me perdoem), porém, sem um pinguinho sequer da conhecida elegância eqüina.
Ocorre que muita, mas muita gente mesmo, concorda comigo. Também acham o cara um grosso, mal educado, rude, desagradável, deselegante e, considerando que seu trabalho é justamente lidar com pessoas, incompetente. Na minha frente, dizem que concordam plenamente comigo. Mas quando o eqüino bípede chega, sou obrigada a agradecer aos céus por não ser diabética. Porque aí as pessoas tornam-se subitamente tão doces que seriam capazes de afetar a quantidade de glicose no meu sangue! Ou seja, GENTE QUE NÃO SE POSICIONA! GENTE QUE NÃO TEM OPINIÃO! E pior: GENTE QUE NÃO TEM VERGONHA NA CARA!
Quer coisa pior do que gente assim? Há pessoas que chamam esta característica de diplomacia, outros chamam de falsidade, eu chamo simplesmente de falta de caráter, de dignidade. E eu tenho medo dessa gente. Porque são pessoas com as quais sei que não posso contar. São pessoas que, ainda que concordem comigo, jamais vão se expor, muito menos fazer coro às minhas palavras. São pessoas que sempre dançarão conforme a música, que não tentarão mudar, que nunca farão a diferença. São pessoas que, dependendo dos acontecimentos, vão sempre pular de um lado pro outro do muro e, sendo possível, vão passar a vida inteira se equilibrando em cima dele, mas que nunca farão parte de nada, nem de lugar nenhum.
Laeticia não é radical, mas tem opiniões próprias; fala o que pensa, sabe que isto custa caro e paga este preço por que já escolheu de que lado vai ficar: o lado de gente que tem opinião!
Um comentário:
Autenticidade exige coragem e tem muito cagao nesse mundo Laeticia.
:-)
Tenho fases de muita opiniao e outras de pouca opiniao pois as vezes cansa... as criticas de outrem acabam por nos afastar de nos mesmas.
Otimo texto. Beijos.
Postar um comentário