O bicho é uma fonte interminável de surpresas e risadas. Agora já nos conhecemos melhor e sabemos um pouco mais dos gostos e manias uma da outra. Pantufa ama o cesto de roupas sujas. Chega a dar para imaginar o êxtase do bichinho deitada em cima de uma cueca com um pé de meia dependurado na boca. Ela aprendeu sozinha a abrir portas. Pois é. Dia destes saímos e esquecemos de trancar a porta da lavanderia. Na volta aquele caos. Roupas espalhadas pelo quintal inteiro. Bem, já percebemos que brigar não adianta. Com ela a teoria dos livros de adestramento funciona muito bem: ôba, atenção negativa! Falem mal, mas falem de mim, briguem comigo, mas me dêem atenção. Pois bem, seguiu-se a sessão de ignorar o cão após o caos. Ela ficou desconsertada e quinze minutos depois, como mágica, reapareceu uma meia no meio do quintal. Não deu outra, o bicho devolveu a meia que tinha levado para dentro da casinha! Como se dissesse: ta bem, eu devolvo, mas não fiquem bravos comigo... Ówwnnnn.
Um o outro dia eu estava num papo muito difícil ao telefone. Quando desliguei o telefone abri a boca a chorar, que nem criança pequena. Eu estava sentada bem no meio da sala. Pantufa não tem permissão de entrar em casa, ela sabe disso e geralmente cumpre a regra. Mas não teve dúvida: torceu a cabeça de um lado para o outro, como eu adoro que ela faça quando parece que não está entendendo alguma coisa, e entrou como um raio ple sala adentro, pulando em cima de mim, chorando e me lambendo, como se quisesse me consolar. Foi incrível.
Se eu fosse descrever a quantidade de coisas que ela já destruiu, mesmo vivendo em um quintal relativamente livre de qualquer coisa, o texto não caberia no blog inteiro. De óculos escuros, passando pelo cano do tanque a poste de madeira, a cachorra não perde tempo. Ainda bem que tenho a tecnologia ao meu lado: comprei uma casinha de material reciclado, é um super compensado feito de caixas de leite, em que o inventor teve a brilhante idéia de misturar algo que tem um gosto horrível. Cena impagável: eu chegando em casa com a casinha, a cara da Panfs de “oba, petisco”, e a cara de nojo que ela fez depois da primeira e última mordida na casinha, que é a única coisa que continua firme e forte lá no quintal. Arrá, um a zero pra mim (ou vinte a um pra ela, conforme a perspectiva).
Geralmente quando chegamos em casa depois do trabalho vamos até o quintal e sentamos sob a área coberta da churrasqueira para relaxar um pouco e dar uma atenção para o cão. Não é que ela entendeu que lá é o lugar onde se brinca da casa? Desde então, quando está entediada, pega algum brinquedo corre para lá e fica jogando o mesmo para cima e nos olhando de longe, como quem diz “como é, não vem brincar? Se eu posso com isso!
Ela é muito inteligente! Aprendeu a sentar, corre para dentro da casinha quando dizemos “vai para caminha”, consegue achar brinquedos que escondemos, e muito mais. Mas não perde a pose de vira-lata: quando acha alguma coisa pra “caçar” quase nos mata de rir em seu ritual de ataque. Vive trazendo presentinhos “adoráveis” pra nós: baratas, passarinhos, bichinhos. Bebe água da chuva, corre atrás do rabo e faz aquilo de mexer a cabeça de um lado para outro. A danada fugiu estes dias. Do quintal dos fundos ela viu a porta da frente e o portão da garagem abertos e disparou na corrida. Era domingo, a bonita aqui de roupão e descabelada que só. Toca a correr pela rua gritando desesperada Pantufa, Pantufa, e Sr Puko correndo e gritando atrás de mim, dizendo que se eu parasse, ela pararia. Mas vai convencer meu coração? Até que não tive mais escolha e parei, desesperada. Ela parou logo em seguida, depois de cheirar o portão de mais umas duas ou três casas, e voltou bem faceira pra mim. UUUUUUFA, que susto!
Esta é a Panfs, que nos últimos dias comeu uma bola e se intoxicou, nos olhando com os olhinhos em desespero e se contorcendo de dor, mas confiando na gente pra virar ela do avesso até descobrirmos o que era. É ela que quando um de nós chega sozinho em casa fica na porta procurando pelo outro. É ela que não cobra nada, não espera nada, é leal até debaixo d’água e nunca guarda rancor. Ainda por cima, é ela o serzinho que para fazer feliz basta uma risada, um colinho, uma coceirinha na barriga. Pensando bem, é ela é quem, de bocaditos, tem me feito feliz pelas pequenas coisas simples da vida, um dia depois do outro.
Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras. Segue bem tranqüila.
Um comentário:
Mas sera o pe do Benedito que agora vou ter que sentir ciumes da Pantufa?!?!
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