quarta-feira, 3 de março de 2010

Querer pela metade

“Não há coisa pior do que querer pela metade”.

Tem coisas que deveriam ser obrigatoriamente impossíveis se não por inteiro, como meio querer, meio amar, meio viver. Mas um belo dia você descobre que elas existem e, com elas, ainda consegue explicar o porquê vivemos com uma sensação perene de que falta alguma coisa. É lógico que falta! A outra metade!

Não é que eu seja insegura, ou demore demais pra decidir as coisas. É que me falta a outra metade do querer. Nesse mundão onde se pode tudo, se quer tudo. Como não há espaço (nem tempo) para ter tudo, começamos a querer pela metade, para poder querer mais coisas ao mesmo tempo.

Considere ainda que é possível querer muito algo pela metade, e será o caos. Eu quero MUITO trabalhar em um lugar com melhores condições humanas, mas eu gosto das atividades que eu faço hoje, então, também quero ficar. Eu quero MUITO morar mais uma vez fora do país, conhecer outra cultura, experimentar ser um profissional em outro lugar, aprender outra língua, mas justo agora o Brasil parece que vai bombar no meu ramo, será que não vou perder o bonde? Eu quero MUITO organizar mais a vida, fazer exercícios com regularidade, cuidar da alimentação, mas é tão bom chegar em casa cansada e fazer uma pestaninha, ler um pouquinho, ficar abraçadinha no sofá vendo besteira na tevê, sentar no quintal e tomar um vinho. Eu quero MUITO ir embora deste fim de mundo onde tem tantas limitações, mas aqui eu tenho uma casa legal, acordo com passarinhos cantando, durmo no silêncio absoluto, faço coisas triviais por um preço absurdamente barato, levo 12 minutos para estar no trabalho, não tenho trânsito (tirando o dia em que o trator vai na padaria na mesma hora que eu)...

E assim, vou permanecendo onde estou... Alguém sabe onde encontrar as outras metades de querer, que podem nos levar pra frente (ou para trás, mas ao menos para algum lugar) mais rápido?

Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras.

Um pouco chocada com a constatação de verdade tão simples e cruel, mas feliz por ser esta a primeira frase a incluir no Cérebro, seu novo caderno de vida, que mora na Mafalda, sua nova capa de patchwork para caderno-livro onde mora a vaquinha mais linda do mundo. Presentes de Milena.

5 comentários:

Dani Ank disse...

Oi Gi! Que saudades de vocês!
Que texto lindo, me identifiquei muito com ele. Ao mesmo tempo que quero muito alguma coisa, fico preso à comodidade da situação atual... e assim vou ficando...
Ás vezes tenha a sensação que preciso de alguma coisa para me "sacudir" e tirar do lugar.
Bom estar aqui para matar as saudades!
Bjs,
Dani

Unknown disse...

Ai, fiquei chocada! Nunca tinha pensado nisso...
Muito bom o posto!
Beijo grande!

Lila disse...

E q o la e sempre o lugar q vamos um dia chegar, e nao o q estamos p pessoinhas curiosas como vc. E o dito bicho carpenteiro!
Vamos hablar? Beijocona e saudades!

Alessandra Krusciel disse...

Gi, teremos sempre algo pela metade, tens toda razão.
Qt ao resto... que lindo que deve ser ai, eu aqui na província dos gaúchos sinto saudade do meu interior e das amigas que perdi pelo pais e pelo mundo. Manda notícias, te adoro e sinto a tua falta.
bj, Ale

Flávia disse...

Gi, muito real o teu depoimento! Também me identifiquei muito com ele. Alguns anos atrás tudo parecia possível e alcançável. Hoje nos deparamos com certo comodismo, buscando o conforto e a segurança do que é certo.
Que falta faz uma conta bancária bem gorda pra poder realizar os meus sonhos!!!hehehe
Flá

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