Entre um sinal e outro, entre duas ruas, no canteiro central, um homem. Uma lata grande suja de tinta branca na mão, calças de tergal branco, camisa azul desabotoada, por dentro uma camiseta mustarda, boné branco, sujo, um homem esperando, parado.
Os carros pararam, aguardando que o sinal esverdeasse novamente, o homem no entanto não atravessou, continuou olhando para o outro lado, como se esse fosse inatingível, como se o outro lado fosse vir até ele e não o contrário, como se alguém viesse ao seu encontro, no entanto ninguem vinha.
Os motoristas se perguntavam intrigados – estaria ele bêbado, ou ainda, estaria ele planejando um assalto? Mas não, nem um, nem outro, virou o rosto na direção dos carros, seu olhar não demonstrava nem um, nem outro, mas continha um sorriso, talvez até certo alívio, olhar de quem havia trabalhado e agora retornava pra casa mesmo que no próximo sinal.
Foi bonito de se ver, não sei bem o por que, um homem sem pressa, sem tentar alcançar as horas, sem correr para atravessar. Talvez por ter feito isso durante toda a semana, talvez por estar apenas vendo os carros passarem. Foi bonito extamente por não saber o motivo e por ter me feito pensar, na imagem, na vida, na pessoa, no tempo.
3 comentários:
Silvia, que lindo esse texto, lindo mesmo! Adoro quando as pessoas conseguem capturar a alma de um momento!
Um grande abraço pra ti!
Puxa, belo texto. A escrita simples vem de uma maneira bem sincera (não que os outros do blog não sejam, é que não encontrei nenhuma outra classificação)
Seria este homem alguém "genuinamente humano"???
Ele era pintor e seu nome era Kafuringa. Salve!
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