sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A gente fica falando tanto na vida como ela é que nunca se lembra de pensar na morte. Grande paradoxo já que vivemos pensando no futuro e a única certeza que temos no futuro é a da morte. Mas não somos educados para lidar com a morte e não raramente somos pegos de surpresa e ficamos completamente desamparados.

Para a morte não há consolo. Há quem diga que saber que o sofrimento cessou serve de consolo, outros, pessoas de fé, consolam-se crendo que a morte é uma espécie de redenção. A mim, fé nenhuma consola. Saber que o sofrimento cessou ameniza a dor. Mas a saudade que fica dilacera, despedaça, sangra, dói.

Ontem tive notícia de que um colega, nem éramos próximos o suficiente para chamá-lo amigo, morreu. Novo, cheio de vida, 42 anos. Foi surpreendido primeiramente pela doença. Depois a morte já não devia mais parecer uma realidade tão distante. São apenas elucubrações minhas. Eu não era próxima sequer para ter acompanhado sua luta contra o lúpus. Mas tenho amigos que eram amigos do peito deste colega. Pessoas da mesma idade, médicos também (sim, ele era médico e sabia o que estava acontecendo com ele), todos acompanharam de perto o tratamento. Foram meses de CTI.

Já passei pelo sofrimento de ter um grande amigo hospitalizado, à beira da morte. Também jovem, também cheio de vida. Mas a doença foi mais forte, ou ele desistiu de lutar. Nunca saberemos. Mas perder um amigo, que dividiu conosco momentos bons e ruins, riu com a gente, riu da nossa cara, enxugou nossas lágrimas e levou pra tomar uma cerveja dói. E se hoje, passados quase quatro anos da morte do Buda, já não sinto mais tanta dor, sinto aquela saudade que angustia.

E fico pensando nos meus amigos que ontem perderam um grande amigo. A dor deles eu já senti. E garanto que não há consolo. Há apenas conforto. Conforto por saber que o sofrimento do amigo cessou, conforto dos que ficaram, que nos abraçam com tanto carinho que chegamos até a esquecer por um momento a realidade. Sei que durante muito tempo pensarão neste amigo, que muitas perguntas surgirão, principalmente aquela para a qual não conhecemos a resposta por quê? Por quê fui privado da convivência de alguém tão querido? Por quê a doença? Por quê justamente O MEU AMIGO? Com tanta gente ruim por aí precisando morrer pra dar paz pros outros... Foi o que pensei durante muito tempo, chorando de saudade. Não há respostas.

Comecei a pensar que, se eu, simples amiga, sofria daquele jeito, como estaria aquela mãe? Que perdeu o filho, vendo invertida a ordem natural da vida? Quanta dor não estaria sentindo! Dizem, e não tenho como imaginar porque não tenho filhos, que não há dor igual. Certa vez assisti uma entrevista com um psicanalista e ele dizia que só há dois traumas comparáveis à perda de um filho: o estupro e viver uma guerra. Dá pra imaginar? Eu não consigo.

Eu penso muito. Muito mesmo. Aliás, eu questiono muito. E as questões que me afligem não têm respostas conhecidas por nós. Serão dilemas somente meus? Alguns, sim. Mas todos? Não acredito. Deve haver uma razão pra uma pessoa jovem, amada, feliz adoecer e morrer antes da hora!! Mas quem diz qual é a hora certa? Quem me garante que eu, saudável, forte, alegre e com uma vida pela frente, não vou morrer ainda hoje e este será meu último post? Estamos sujeitos a tantos riscos o tempo todo... Quem garante que não vou adoecer de novo, ainda jovem? Que a doença não será mais forte que eu? Que não vou sair pra trabalhar e ser atropelada? Levar um tiro que não era pra mim? Ou simplesmente torcer o pé, cair e bater a cabeça? Nada! Ninguém!

E o que haverá por trás de uma morte assim, mais difícil de aceitar que a morte na velhice? O que haverá que está muito além da nossa mortal compreensão? Haverá mesmo uma razão para determinadas coisas acontecerem? Ou a morte é simplesmente o ponto final e vivemos iludidos na esperança da “vida eterna” prometida pela Igreja católica? E se vivemos eternamente, em ciclos de evolução, como prega o espiritismo e, de certa forma, diferente, mas igual, o budismo? Será que vivemos mesmo em evolução? Que aprendemos em cada vida? Que nos aperfeiçoamos ou pelo menos deveríamos melhorar? Que acabamos simplesmente e portanto devemos liberar o nosso id? Parece que a vida nos dá muito e depois a morte tira. Mas será que tira mesmo? A questão permanece. Não há respostas.

A vida como ela é? A morte como ela é? Será alguém capaz de nos dizer? Não creio. Quanta pretensão! Não há respostas. Simples assim.

Laeticia continua pensando, pensando, pensando. E a crise continua.

Um comentário:

Mary disse...

Bela reflexão, Laeticia.

Mas, taí uma coisa que eu não assimilo: morte.

Beijos meus.

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