Outro dia me disseram que eu sou estranha, que vivo em crise. Engraçado é que as pessoas têm esta visão distorcida de crise, que crise é uma coisa ruim. Eu nunca vi crise desta forma. Embora sofrido, e isto é realmente inegável, eu sempre ressurgi melhor e mais forte de minhas crises. E se não é verdade que vivo em crise, verdade é que já passei por várias. E cada uma mais pesada que a outra.
É mais forte que eu. Incontrolável. Eu bem que tento, mas quando assusto, estou lá, pensando, pensando, pensando. Já trombei em portas, escorreguei no chão, caí em escadas, esbarrei em pessoas, pisei em coisas, torci o pé. Podem saber, eu estava longe, bem longe nestes momentos. Perdida em meus pensamentos.
A última crise pela qual passei foi tão violenta que fez com que eu abandonasse o Direito. Aliás, abandonasse, não. Abandono parece coisa impensada. E o negócio foi pensado e repensado. Deu um puta prejuízo financeiro largar aquele escritório. Mas coloquei na balança e achei que brigar na Justiça ia me causar um dano emocional tão grande que não valia a pena. Simplesmente saí. Segui minha intuição. Decidi não fazer concurso, nem seguir a academia. Ia dar na mesma. Fiz uma coisa que muita gente morre de vontade de fazer, mas não tem coragem. Chutei o pau da barraca!
Fui taxada de louca. Sem juízo. Disseram que eu ia matar minha mãe de desgosto. Eu mesma cheguei a achar que minha mãe ia morrer não de desgosto, mas de preocupação comigo. Cinco anos na faculdade, dois na pós-graduação, dois anos tentando fazer mestrado na UFMG, um pé na USP e larguei tudo porque achei que estava no caminho errado. Não me admiro de as pessoas acharem que eu tinha enlouquecido. Mas há dois anos largar tudo me parecia o único caminho razoável, talvez o único que me levasse àquilo que eu buscava. Àquilo que nem eu sabia exatamente o que era. Hoje o que eu acho disto? Realmente não havia outro caminho: boa chutada de balde!
Acho que entrei em crise novamente. Já deve ter uns dois meses. Sei lá. Crises não são boas conhecedoras de tempo e espaço. Ando me sentindo na gaiola. Ando me sentindo amarrada, amordaçada. Não me sinto mais à vontade pra dizer o que penso entre pessoas que sempre me ouviram. Parece que ninguém mais quer ouvir palavras sinceras. Antes as pessoas me perguntavam as coisas, dizendo, “seja sincera”. E eu tinha certeza que podia dizer: “olha, joga fora esta blusa que não tá legal”. Mas hoje, a mesma pessoa que antes jogava a tal blusa fora ou dava pra alguém, me pergunta o mesmo tipo de coisa e eu tenho que mentir ou fazer cara de vendedora de loja ruim! Eu vou ao cinema, acho um filme uma bosta e tenho que olhar em volta antes de dizer “nossa, que bosta de filme” ou então sussurrar “nossa, que bosta de filme”, senão alguém pode ficar com os sentimentos altamente feridos porque eu não gostei do filme e manifestei minha opinião! Se eu não gosto de alguém, não posso dizer simplesmente “fulano é metido a besta para caraleo e não tô afim de sentar na mesma mesa que ele; já tenho que agüentar muita gente chata no meu trabalho e não quero perder meu tempo livre com gente chata ao invés de usufruir deste tempo com meus amigos”, tenho que ser politicamente correta e ficar de firula com o chato pra agradar um monte de gente que não anda nem aí pra me provocar sequer um sorriso. O que mais me chateou outro dia foi eu mostrar uma foto minha que eu achei linda pra uma pessoa que eu gosto muito mesmo e ouvir “já tava tonta, conheço esta cara de tonta!”. E a foto foi batida cinco minutos depois que eu cheguei à festa... Isso me chateou de verdade. Crise detonada!!!
Aí eu fico pensando: o que é que eu estou fazendo aqui neste lugar? E os sonhos que eu tinha? Mais!! E os sonhos que EU TENHO? E os lugares que eu quero conhecer? As viagens que ainda não fiz? As pessoas que ainda não encontrei? Os lugares que ainda não conheci? Os livros que ainda não li? Os museus, cinemas e teatros que ainda não visitei? Os micos que ainda não paguei? Os tombos que ainda não levei? As lágrimas que ainda não chorei? Os risos e as gargalhadas que ainda não ri? As fotos que ainda não tirei? Os porres que ainda não tomei? As festas em que ainda não fui? Os copos que não quebrei? As cicatrizes que ainda faltam pra minha coleção? A tatuagem que eu não fiz? Ai, minha cabeça vai explodir!!!!!
Acabei de assistir no youtube um trecho de uma palestra do Dr. Paulo Gaudêncio. Pra quem não sabe, o Dr. Paulo é psicoterapeuta. Psicoterapeutas, psicólogos, psiquiatras e psicanalistas têm sido amigos diletos, solidários companheiros de minha jornada em crise rsrs
A idéia de crise do Dr. Paulo Gaudêncio me vem bastante a calhar: crise seria a ruptura entre a idéia e a estrutura para que a idéia se concretize. Jovem é quem caminha com a idéia e velho é quem se estruturou, quem está na verdade final. Assim, a solução para a crise seria a reestruturação, a pacificação. Pra mim, o envelhecimento. Ou seja, seguindo esta linha de raciocínio, crise é sinal de vida. Só não tem crise quem está morto. Mas é inegável que, apesar da crise representar uma oportunidade de evolução, ela vem sempre acompanhada pelo sofrimento da ruptura.
Outra idéia de crise que me acompanha surgiu de uma conversa sem maiores pretensões regada a Absolut pura com gelo na sala de estar de um amigo, respeitado psicólogo, Dr. Sérgio Cirino. Desde aquele dia comecei a achar que minha crise surgia sempre que eu queria viver de um jeito e o mundo me obrigava a viver de outro. Evidentemente, naquela noite consegui elaborar muito mais adequadamente meu conceito de crise. Contudo, no dia seguinte, toda minha tese filosófica a tal respeito infelizmente estava apagada de minha memória. Deste episódio pude constatar que: 1) eu passaria a carregar em minha bolsa um gravador portátil E pilhas OU 2) Absolut pura com gelo deixaria de fazer parte do menu quando surgisse um assunto de tamanha importância para minha sobrevivência. Conseqüência: Comprei um aparelho celular que grava, mas nunca me lembro de gravar nada.
Enfim, realmente estou em meio a mais uma crise. Sinto uma vontade enorme de empacotar minha vida, guardar na casa da minha mãe, que é o lugar mais seguro do mundo pra se guardar algo tão precioso, e me mandar pela estrada! Sinto que o mundo está acontecendo lá fora e que eu estou aqui, paradinha, olhando pela janela enquanto poderia estar lá, fazendo parte daquilo tudo! Sinto que o tempo está passando! Que eu estou passando! E que eu ainda quero ter muita história pra contar! Será que vai dar? Ainda não sei. Esta é a minha crise.
É mais forte que eu. Incontrolável. Eu bem que tento, mas quando assusto, estou lá, pensando, pensando, pensando. Já trombei em portas, escorreguei no chão, caí em escadas, esbarrei em pessoas, pisei em coisas, torci o pé. Podem saber, eu estava longe, bem longe nestes momentos. Perdida em meus pensamentos.
A última crise pela qual passei foi tão violenta que fez com que eu abandonasse o Direito. Aliás, abandonasse, não. Abandono parece coisa impensada. E o negócio foi pensado e repensado. Deu um puta prejuízo financeiro largar aquele escritório. Mas coloquei na balança e achei que brigar na Justiça ia me causar um dano emocional tão grande que não valia a pena. Simplesmente saí. Segui minha intuição. Decidi não fazer concurso, nem seguir a academia. Ia dar na mesma. Fiz uma coisa que muita gente morre de vontade de fazer, mas não tem coragem. Chutei o pau da barraca!
Fui taxada de louca. Sem juízo. Disseram que eu ia matar minha mãe de desgosto. Eu mesma cheguei a achar que minha mãe ia morrer não de desgosto, mas de preocupação comigo. Cinco anos na faculdade, dois na pós-graduação, dois anos tentando fazer mestrado na UFMG, um pé na USP e larguei tudo porque achei que estava no caminho errado. Não me admiro de as pessoas acharem que eu tinha enlouquecido. Mas há dois anos largar tudo me parecia o único caminho razoável, talvez o único que me levasse àquilo que eu buscava. Àquilo que nem eu sabia exatamente o que era. Hoje o que eu acho disto? Realmente não havia outro caminho: boa chutada de balde!
Acho que entrei em crise novamente. Já deve ter uns dois meses. Sei lá. Crises não são boas conhecedoras de tempo e espaço. Ando me sentindo na gaiola. Ando me sentindo amarrada, amordaçada. Não me sinto mais à vontade pra dizer o que penso entre pessoas que sempre me ouviram. Parece que ninguém mais quer ouvir palavras sinceras. Antes as pessoas me perguntavam as coisas, dizendo, “seja sincera”. E eu tinha certeza que podia dizer: “olha, joga fora esta blusa que não tá legal”. Mas hoje, a mesma pessoa que antes jogava a tal blusa fora ou dava pra alguém, me pergunta o mesmo tipo de coisa e eu tenho que mentir ou fazer cara de vendedora de loja ruim! Eu vou ao cinema, acho um filme uma bosta e tenho que olhar em volta antes de dizer “nossa, que bosta de filme” ou então sussurrar “nossa, que bosta de filme”, senão alguém pode ficar com os sentimentos altamente feridos porque eu não gostei do filme e manifestei minha opinião! Se eu não gosto de alguém, não posso dizer simplesmente “fulano é metido a besta para caraleo e não tô afim de sentar na mesma mesa que ele; já tenho que agüentar muita gente chata no meu trabalho e não quero perder meu tempo livre com gente chata ao invés de usufruir deste tempo com meus amigos”, tenho que ser politicamente correta e ficar de firula com o chato pra agradar um monte de gente que não anda nem aí pra me provocar sequer um sorriso. O que mais me chateou outro dia foi eu mostrar uma foto minha que eu achei linda pra uma pessoa que eu gosto muito mesmo e ouvir “já tava tonta, conheço esta cara de tonta!”. E a foto foi batida cinco minutos depois que eu cheguei à festa... Isso me chateou de verdade. Crise detonada!!!
Aí eu fico pensando: o que é que eu estou fazendo aqui neste lugar? E os sonhos que eu tinha? Mais!! E os sonhos que EU TENHO? E os lugares que eu quero conhecer? As viagens que ainda não fiz? As pessoas que ainda não encontrei? Os lugares que ainda não conheci? Os livros que ainda não li? Os museus, cinemas e teatros que ainda não visitei? Os micos que ainda não paguei? Os tombos que ainda não levei? As lágrimas que ainda não chorei? Os risos e as gargalhadas que ainda não ri? As fotos que ainda não tirei? Os porres que ainda não tomei? As festas em que ainda não fui? Os copos que não quebrei? As cicatrizes que ainda faltam pra minha coleção? A tatuagem que eu não fiz? Ai, minha cabeça vai explodir!!!!!
Acabei de assistir no youtube um trecho de uma palestra do Dr. Paulo Gaudêncio. Pra quem não sabe, o Dr. Paulo é psicoterapeuta. Psicoterapeutas, psicólogos, psiquiatras e psicanalistas têm sido amigos diletos, solidários companheiros de minha jornada em crise rsrs
A idéia de crise do Dr. Paulo Gaudêncio me vem bastante a calhar: crise seria a ruptura entre a idéia e a estrutura para que a idéia se concretize. Jovem é quem caminha com a idéia e velho é quem se estruturou, quem está na verdade final. Assim, a solução para a crise seria a reestruturação, a pacificação. Pra mim, o envelhecimento. Ou seja, seguindo esta linha de raciocínio, crise é sinal de vida. Só não tem crise quem está morto. Mas é inegável que, apesar da crise representar uma oportunidade de evolução, ela vem sempre acompanhada pelo sofrimento da ruptura.
Outra idéia de crise que me acompanha surgiu de uma conversa sem maiores pretensões regada a Absolut pura com gelo na sala de estar de um amigo, respeitado psicólogo, Dr. Sérgio Cirino. Desde aquele dia comecei a achar que minha crise surgia sempre que eu queria viver de um jeito e o mundo me obrigava a viver de outro. Evidentemente, naquela noite consegui elaborar muito mais adequadamente meu conceito de crise. Contudo, no dia seguinte, toda minha tese filosófica a tal respeito infelizmente estava apagada de minha memória. Deste episódio pude constatar que: 1) eu passaria a carregar em minha bolsa um gravador portátil E pilhas OU 2) Absolut pura com gelo deixaria de fazer parte do menu quando surgisse um assunto de tamanha importância para minha sobrevivência. Conseqüência: Comprei um aparelho celular que grava, mas nunca me lembro de gravar nada.
Enfim, realmente estou em meio a mais uma crise. Sinto uma vontade enorme de empacotar minha vida, guardar na casa da minha mãe, que é o lugar mais seguro do mundo pra se guardar algo tão precioso, e me mandar pela estrada! Sinto que o mundo está acontecendo lá fora e que eu estou aqui, paradinha, olhando pela janela enquanto poderia estar lá, fazendo parte daquilo tudo! Sinto que o tempo está passando! Que eu estou passando! E que eu ainda quero ter muita história pra contar! Será que vai dar? Ainda não sei. Esta é a minha crise.
Este último parágrafo saiu, foi impensado e vai ser postado assim mesmo! Vale uma vida de psicanálise!
7 comentários:
Uau, Laeticia! Creio que quem tem um mínimo de consciência de si e da vida tem crises frequentemente; umas mais longas e graves que outras, mas muitas. Extamente pelos motivos que tu falou: o equilíbrio total seria a morte. Mas todas as tuas perguntas ficaram retumbando na minha cabeça... O que é viver? É se satisfazer? Satisfazer aos outros? Se deixar levar? Travar uma batalha por dia?? Ai, guria! tu me deixou em criseeee!
Abraços solidários!
Rê
Ai guria...nada a adicionar, e meu comentario fica:achei que eu era louca!Bom, no minimo somos duas... rsrs
Beijo!
poxaaaaaa me indentifiquei nesse texto estou me sentindo assim, pareço que não tenho historia , parei no tempo e a vida segue ,agora sei que não estou só ........valeu!!!!
Olá
Sou leitora de vcs há muito tempo, nem sempre comento é verdade, mas o blog está linkado no meu e sempre dou uma passadinha para ver o que vcs andam aprontando...
O texto de hoje me fez pensar em várias coisas, principalmente nas crises que tive e ainda tenho. Graças a Deus que elas aparecem uma de cada vez. Refleti mundo sobre a sua teoria da crise, e concordo plenamente.
Confesso que tenho a mesma vontade de guardar minha vida em algum canto e vir buscar depois. Isso me daria um tempo para respirar, realmente estou precisando.
Volto mais vezes, prometo.
Obrigada pelo texto, profundo e verdadeiro.
Um beijo no seu coração.
Maria, relaxa!
Todo mundo tem criseS, num plural bem maiúsculo. Admitir a tal crise é que são elas...
Eu entendo o que vc sente. Às vezes, a sociedade poda nossa essência, o que faz o exército dos hipócritas crescer...
Eu sei que vc vai sair de mais essa forte e linda!
Fé, Maria!
Bjo
Linda, adorei seu cantinho!!!!!!!
Crises, temos tantas rsrsrs!
Vou passar por aqui sempre!
Beijãooooooo
Já estou seguindo!
Lembro do teólogo Leonardo Boff dizendo que "as crises são chances de nos tornarmos melhores". Claro, a desgraçada da crise dói demais. Eu mesmo passo por uma de amor, mas... vamos pra frente. Se é pra crescer e ser melhor, que Deus nos dê paciência nas crises, pois, se der força, eu sai quebrando tudo.
Abraços. Adorei o blog e add como Recomendo no meu site.
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