sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Eu e Stephen Hawking

Uma das implicações de ser físico (as físicas do blog e nossos amigos físicos com certeza concordam comigo) é que todo mundo pensa que você é: a) doido e b) inteligente. Os espécimes que são normais (e acreditem, nós, físicos normais, somos maioria absoluta, mas somos ofuscados pelas peças raras que sempre atraem mais atenção) conseguem se livrar facilmente do item a, mas convencer as pessoas que você não é um gênio só porque no seu diploma tem escrito “Física” normalmente é uma tarefa complicada, de forma que não vale a pena insistir muito.

Bom, mas falando de mim: eu, modéstia à parte, sou inteligente. Consegui trilhar o caminho que queria usando os neurônios que ganhei de presente: fiz Colégio Técnico no lugar que eu queria, apesar de muito concorrido e do altíssimo nível da prova; fui aprovada em uma Universidade pública, gratuita e de qualidade aos 17 anos e terminei a faculdade razoavelmente bem, apesar de alguns percalços; fui aprovada em todos os mestrados a que me submeti, e passar direto pro doutorado foi um caminho natural. Apesar desse caminho não ter sido nenhum sacrifício na minha vida (também não foi livre de dificuldades), devo dizer aqui que sei que sou inteligente, mas estou longe de ser brilhante. Tenho plena consciência que nunca serei um gênio da ciência, e provavelmente também não serei uma pesquisadora de destaque. Mas isto não me aborrece, porque este não é meu objetivo. Meu objetivo é ser professora e eu realmente acho que nesta área posso fazer diferença. Enquanto tropeço aqui e ali seguindo meu caminho acadêmico/ profissional, me enrolo totalmente na hora de definir minha vida pessoal e emocional, mas tenho fé que um dia vou conseguir conciliar isso tudo.

Mas agora falando de outro físico: Stephen Hawking, físico inglês, é, na minha opinião e acho que na opinião da maioria dos físicos, o maior físico vivo do mundo. E depois que morrer vai entrar pra galeria dos maiores físicos de todos os tempos. Pra quem não está associando o nome à pessoa ou não o conhece, ele é o autor do best seller “Uma breve história do tempo”, aquele livro que quem lê adora falar que leu, embora 99% não tenha entendido nem o título (na época que escreveu este livro Hawking não era muito hábil na tarefa de escrever para leigos, de forma que o livro é pesado para a maioria dos mortais da área e praticamente incompreensível para os leigos. Dizem que em “O universo em uma casca de noz”, o último, ele foi muito mais bem sucedido na tarefa de inserir leigos no mundo dele). Ele estuda as leis básicas que governam o universo e, enquanto adquiria cada um dos seus 12 títulos e dava aula (ocupando a mesma cadeira que um dia foi de Isaac Newton), ganhou vários prêmios mundiais de ciência e constituiu uma família. É casado, tem três filhos e um neto.

Agora vamos falar das diferenças da minha vida e da vida de Hawking. Não vou subestimar vocês e falar que ele é mais inteligente e talentoso do que eu, acredito que os dois parágrafos anteriores tenham sido bem claros. Hawking sofre desde os 17 anos de Amiosclerose Múltipla Lateral (acho que é esta a tradução), uma doença neurológica que começou fazendo com que ele mancasse um pouco e hoje em dia paralisou todo seu corpo, e até pra falar ele precisa de sintetizador de voz. Li um tempo atrás que ele foi, mais de uma vez, vítima de agressões físicas na Universidade onde é professor, mas ele mesmo optou por não denunciar os agressores, o que seria sua única forma de defesa (já pensou? Alguém te batendo e a única coisa que você pode fazer é olhar?). Ele diz que não pensa muito na doença e nas coisas das quais é privado. Prefere ter uma atitude positiva e usar os recursos que tem (cadeira de rodas elétrica, sintetizador de voz por exemplo) pra continuar levando a vida, dando aula, fazendo pesquisa, publicando muito e aproveitando a família. Acho super bacana essa postura dele, e sinceramente não sei se seria capaz. Mas analisando a vida dele, fico pensando que prefiro ficar com minha inteligência mediana e ser capaz de abraçar as pessoas que eu amo. Prefiro não ganhar prêmios e poder andar até meu local de trabalho, ligar meu computador e fazer minha modesta pesquisa com minhas mãos, folheando livros, fazendo anotações em cadernos e levantando de vez em quando pra esticar as pernas. Tem coisa que não tem preço, por mais simples que seja.


Sisa escreveu este post num ataque de revolta depois de ler uma crônica onde uma hipócrita míope (muito míope, mas não justifica) dizia que teve inveja de uma tetraplégica por ela conseguir ler um papel sem precisar de óculos. Sisa precisa de óculos, mas acha que poder segurar o papel que vai se ler não tem preço.

4 comentários:

Angel disse...

É isso Sisa, devemos agradecer a cada dia a saúde que temos, o trabalho (mesmo que seja "meia boca"), a inteligência (pra correr atrás de algo melhor), enfim tudo o que temos de bom. Quem sabe não paramos de reclamar tanto da vida...

Beijos!

Anônimo disse...

Oi Sisa,
Amei seu texto como sempre!!!
E pode deixar essa modestia de lado, vc pode não ganhar nehum nobel, mas com certeza sua inteligência está bem acima da média rs

Bj!

Paula disse...

Oi Sisa!
Concordo com você! A saúde e a disposição podem ser peças-chave na nossa vida e, se bem aproveitadas, muito mais que uma inteligência fora do comum.
Tenho pena de uma pessoa que supervaloriza a miopia (ou qualquer outro "defeitinho") e esquece de todas as outras coisas que é capaz de fazer...
Beijos!

Anônimo disse...

Ei Sisa!!

Estou com a Louise!!!

Muitas saudades!!

BEijos!

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