sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

E é Saramago pra lá, Saramago pra cá. E todo mundo leu, todo mundo viu. Nooooooooossa!!! Você NÃO LEU o último livro do Saramago?!! Não, eu não li Memórias de Minhas Putas Tristes. Li O Homem Duplicado, mas não tinha lido O Ensaio Sobre a Cegueira quando saí de casa pra assistir ao filme. Sinceramente? Não fazia idéia do que se tratava. Só sabia que era a adaptação do livro do Saramago. E que o Fernando Meirelles ficou em cólicas enquanto o filme era exibido para o próprio pela primeira vez, como ele mesmo declarou à Playboy. E que o Saramago, em lágrimas, declarou que a adaptação havia ficado sublime. Sim, acho que a palavra que ele usou foi “sublime” mesmo.

Antes de ir ao cinema, pensei seriamente em fazer como sempre fiz: ir a uma livraria, comprar o livro, ler e depois, aí sim, ir ao cinema. Mas não consegui. Joguei a culpa no trabalho, na falta de tempo, e aproveitei um momento futebolístico do Bola (sem trocadilho) pra fazer um programa entre amigas e assistir ao filme com Sílvia. Tinha tempos que a gente não saía assim, do nada, sem planejar, pra fazer fofoca e tomar um chopinho. Apesar de que esta meleca de lei anda vetando até um chope inocente. Enfim, tomei o chope, azar da lei, e entramos na sala do cinema.

Meninas, o filme é muito, muito bom! Mas é um soco no estômago. Fiquei assistindo ao filme e pensando em como o livro devia ser pesado, daqueles que os olhos grudam nas páginas e a gente não consegue parar enquanto não acaba a contra capa do livro. Aí a gente fica com o livro na mão, meio órfão e lastimando ter acabado e recomeça a leitura, porque há livros que a gente lê a vida toda. E a cada leitura, fazemos uma interpretação nova, conseguimos ver situações idênticas sob ângulos diferentes, não porque estejamos lendo uma nova edição, mas porque a alma que lê já é outra. Fui assistindo ao filme, usando aquela capacidade bem feminina de pensar, sentir e fazer mil coisas simultaneamente, e tentando lembrar qual seria a livraria mais próxima pra comprar o livro.

Devaneios à parte, como o ser humano não vale nada, não é? Aquela sujeira, aquela imundície, tantos trapos!! Todo mundo na mesma miséria, na mesma escuridão, e mesmo assim, alguns querendo – e tirando – proveito dos outros, iguais. Alguns se sacrificando ao extremo – as mulheres, sempre as mulheres – literalmente por um prato de comida. Outros, mais fortes, vendo o circo pegar fogo, e se eximindo de qualquer responsabilidade, preocupando-se somente em manter segregados os que julgaram piores, sob pretexto de manter sua própria integridade física e mental.

Pelo amor de Deus! Que capacidade tem o ser humano de não valer nada!! Quero dizer, tem a capacidade de ser inescrupuloso, vergonhosamente inescrupuloso, esquecendo-se que todo mundo vai virar a mesma coisa, vai virar um nada. Nadica de nada!!! Como o ser humano tem a capacidade de se aproveitar do momento de miséria alheia! Pensem aí: alguma de vocês já viu algum bicho se aproveitando do momento de dificuldade do outro? Deliberadamente se aproveitando do momento de fragilidade do outro? EU NÃO!! Nunca vi um cachorro aproveitando que o outro está sem poder andar pra tomar a comida dele só pra ter mais comida guardada!! Nunca vi um cachorro bater no outro só porque ele está machucado. Ou se aproveitar que o outro está machucado pra tomar a casa e o agasalho dele. Não. Estas coisas medonhas, que dão vergonha de fazer parte da mesma espécie, só gente é que faz!!

Aí fico me perguntando o que é que anda acontecendo pelo mundo afora. Porque neste exato momento em que estou sentadinha no conforto do meu sofá, escrevendo e vendo TV ao mesmo tempo, tentando engolir minha vontade de abrir uma lata de leite condensado e comer inteirinha, existem várias pessoas se aproveitando umas das outras por aí, espalhando medo, raiva e revolta, enriquecendo e provocando miséria e sofrimento só pelo prazer do exercício do poder. Será que tem alguém vendo isto tudo acontecer? Ou será que a gente vê, mas finge que não vê? Pior. A gente vê, não finge que não vê, fala, fala, fala, mas se exime de qualquer responsabilidade.

É a gente não vale nada mesmo...

Laeticia adorou o filme, precisa ler o livro, assistir ao filme de novo pelo menos mais umas quinze vezes, ler o livro inúmeras outras e começar uma terapia logo em seguida. Porque a realidade é crua demais pra quem enxerga conseguir suportar sua visão sem enlouquecer.

3 comentários:

Su disse...

Eu ja li o livro a temos atrás e não vi o filme ainda!
Mas foi bom vir aqui e ler sua crítica, pois eu gostei muito do livro, claro que o livro é sempre melhor que o filme, afnal, construímos a historia na nossa imaginação!
Mao que importa mesmo é que nos é transmitdo!!!

Gde bjo!

Luciana Felisbino disse...

Oi, o blog de vocês é super legal. A gente tem um parecido, com mulheres do Brasil e de Portugal. Coloquei um link de vocês no nosso e passei a visitá-las com frequência.
Beijo

Silvia disse...

È realmente o filme ficou muuuito bom, a trilha sonora.... perfeita, literalmente, sem comentários. Fiquei surpreendida por ouvir algo que escuto a anos mas que,infelizmente, ainda não é tão apreciado pelas pessoas. Fiquei extasiada quando ouvi, a escolha não poderia ter sido melhor. E pela primeira vez na vida eu assisti a uma adptação melhor do que o livro. Sim , eles conseguiram. Meu coração disparou em algumas cenas, mesmo já sabendo préviamente o que iria acontecer. Genial.

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