sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Resgate

"Leleca, não sei se você já sabe, mas a mãe do Marcelo faleceu segunda-feira. Estamos viajando de férias e não conseguimos chegar a tempo para o velório. Avise o pessoal, por favor. Chegaremos ao Brasil amanhã e aí te aviso sobre a missa de sétimo dia. Se você puder avisar todo mundo de novo, eu agradeço. Vai ser tudo muito confuso quando a gente chegar.”


E foi assim que comecei minha quarta-feira. Avisando às pessoas que a mãe de um grande amigo havia falecido e ele não tinha nem conseguido se despedir dela. Enquanto eu redigia a mensagem para enviar pro pessoal, várias coisas passaram pela minha cabeça. Quando fora a última vez que nos reuníramos? No velório da avó do Fred, no casamento do Pena, na festa de fim de ano no Esbórnia depois de dezenas de e mails trocados? Bem, a realidade é que nem nestes eventos eu fui. Tive notícia do velório da avó do Fred uma hora depois dele ter acontecido. 


No dia do casamento do Pena eu trabalhei de oito da manhã até oito da noite e no dia seguinte também. Na festa de fim de ano, foram tantos e mails trocados, tantas farpas, tantos desencontros, que, de tanto pensar, quase não fui. Aí me lembrei que o Bruninho tinha estado aqui em Belo Horizonte e que nós não havíamos nos encontrado. E nem me encontrei com o Dandan, que também estava aqui na semana passada. E também deixei de ir ao show do Mig em homenagem ao Cartola no domingo. Tentei descobrir o por quê de tanto desencontro, de tanto afastamento e cheguei a uma conclusão muito triste. A rotina do dia-a-dia, as preocupações pessoais, os progressos e as dificuldades de cada um, as escolhas e os caminhos que cada um de nós escolheu trilhar ou acabou trilhando por um acaso da vida, haviam adquirido uma proporção tão grande, que as diferenças passaram a predominar. Deixamos de ser estudantes igualmente duros e cheios de ideologia. Caímos na real e encaramos o mercado de trabalho, a vida de adulto, e não percebemos que uns encararam tudo isto com mais ou menos medo, tiveram mais ou menos sorte, mais ou menos ambição.  E não percebemos quando alguns dispararam e outros ficaram pra trás. Penso que não há caminho certo, caminho errado; há o caminho de cada um. Então não deveríamos ter nos afastado tanto. Mas é verdade que nos afastamos. Afastamo-nos a ponto de não pedir ajuda a quem, um dia, conosco dividiu sonhos; afastamo-nos a ponto de achar que todos conseguiram realizar seus próprios sonhos como estávamos realizando os nossos. 


Tornamo-nos pessoas diferentes, muito diferentes e esquecemo-nos de quem fomos um dia, de uma época em que éramos mais inocentes, mais ingênuos, crentes que as oportunidades seriam as mesmas, assim como era a mesma a nossa dureza e os sonhos de um futuro menos suado. Sabem o que eu acho? Acho que ainda dá tempo de reverter este processo. Acho que estamos precisando nos ver mais, nos encontrar mais vezes, colocar o papo em dia. Muitas vezes a gente se envolve tanto com trabalho, com o dia a dia, com nossos próprios problemas que esquecemos que temos amigos que podem e querem muito nos ajudar e que podem estar precisando da gente também. 


Depois que o Buda morreu a gente se afastou muito e, confesso, eu já imaginava que isto ia acontecer, lastimavelmente... Acho que está na hora de voltarmos a ser o que éramos antes, amigos sempre presentes e não amigos de festas de fim de ano, casamentos e batizados. Porque corremos o risco de nos tornar amigos de velórios e é muito triste que nós deixemos isto acontecer conosco. Ainda dá tempo de reverter este processo. E eu vou fazer de tudo pra ter meus amigos mais próximos de mim outra vez.


Laeticia caiu em si e decidiu que o cotidiano e as dificuldades da vida não vão separá-la de seus amigos, a menos que eles queiram. Mas mesmo assim, avisa desde já que estará por perto, sempre ao alcance de um abraço.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sabe Laeticia, algumas vezes já pensei muito a respeito do que você escreveu hoje.

Não cheguei a nenhuma conclusão concreta, mas penso que às vezes não somos nós quem nos afastamos das pessoas, mas nossas atitudes que fazem com que elas se afastem de nós, e vice-versa.

Muitas vezes a maneira como agimos ou reagimos a determinados assuntos ou acontecimentos fazem com que as pessoas se afastem de nós e nós simplesmente aceitamos. Ou por comodismo, ou por vontade mesmo. É mais fácil assim.

As pessoas mudam. Consequentemente seus objetivos, suas idéias e por quê não seus amigos?

A vida é repleta de mudanças. Nem todas são para melhor, como também não são para pior.

Devemos aprender a conviver com a nossa nova realidade. Se não for a que mais nos agrade, façamos por onde mudar.

Mas lembre-se: nunca voltará a ser como era antes.

Abraço,
Tatiana

Advokete disse...

É, acho que desta vez conseguimos chegar a um consenso: nunca voltará a ser como antes. Talvez seja ilusão minha querer manter todos os amigos de antes. Realmente, com as mudanças mais visíveis, é quase conseqüência natural que as amizades também passem a ser outras, com quem talvez tenhamos mais afinidades. Mas não deixo de ficar triste com isto. Mas talvez não seja mesmo uma opção que possamos fazer. Talvez seja apenas uma coisa da vida e contra a qual dificilmente poderemos lutar. Nem tudo tem explicação, né? Aliás, quase nada que realmente importa tem. Relações humanas são realmente muito complexas. Beijos pra você e pro DanDan.

Angel disse...

Ei Maria!

Sei bem disso que você disse. Penso que o afastamento, natural nos dias de hoje, não determina o fim de uma amizade, a menos que um acontecimento extra (e grave) leve a isso.

Tenho amigos morando fora do país, aos quais amo profundamente e por quem sinto que a amizade continua, mesmo com a distância.

Nós duas, por exemplo, na mesma cidade e distantes. Apesar disso sinto que estamos ao alcance uma da outra e o que sinto por você não mudou nada.

Concordo que depende de nós manter a proximidade e não deixar os encontros só para grandes eventos.

beijos!

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