Um apartamento é apenas um local onde se mora. Local. Ser inanimado, inerte, aderido à casca de personalidade que resolvemos impor a ele pelas cores da decoração, uma cortina aqui e ali, ou um espaço bem clean e pronto. Geralmente os problemas são relativos ao condomínio, um ser completamente externo ao nosso espaço, do qual podemos fazer parte ativamente ou simplesmente ignorar e acatar algumas regras, dependendo da nossa vontade maior ou menor de ter nossas escolhas respeitadas ou da sorte de viver próximo a quem costuma fazer boas escolhas. Falando assim parece que o apê é um saco e se imagina um gordão mau-humorado que mora em frente à televisão, se alimentando de tudo que alguém pode trazer até a porta. Não é. Eu vejo um apê como um espaço bem restrito, pois mesmo que seja grande ele é ideologicamente restrito, onde se tem muita liberdade (olha só que dicotomia).
Uma casa é um ser vivo, por vezes esquisito. Ela estuda a personalidade dos “outros” membros da família e fica tirando a maior onda com eles. Sabe quem tem medo de ficar sozinho e justo quando a criatura está só, dá um jeito de se contorcer e fazer barulhos que antes não estavam lá. É geniosa. Resolve engolir, de birra, o fio da antena de TV que precisa atravessar a parede do telhado acima de segundo andar e acabou-se. Influencia mentalmente a faxineira até convencê-la a convencer o morador de que o piso não tem mais sinteco e que precisa de cera. Você cede e ganha uma pista de esqui sem neve particular, mas a casa certamente se diverte bastante. Pra se vingar, você se diverte com a casa, que tem tanta prisão de ventre quanto você, e ameaça ignorar o limpa fossa, e até o diabo verde, se a casa não se comportar.
Uma casa sente falta de quem nela vive e vai arrumando companhia para as horas vagas. Ela ensina formigas assassinas a escalar coisas impossíveis (sorte é que as formigas são burras e com freqüência se afogam no liquidificador que ficou de molho ou se empanturram de goiaba e não conseguem descer da fruteira). Uma casa abriga seres no forro e cospe casquinhas de ovos vazias na garagem de manhã cedo, pra nos mostrar que ela não está só, fazendo descaso pela nossa saída. Ela abriga mecanismos invisíveis aos apartamentos, e barulhentos. A caixa d’água, por exemplo, que se diverte fazendo barulhos do além pra cada torneira que se abre e fecha.
A casa ainda é carente à beça. Faz questão de ficar invertendo de lugar torneiras frias e quentes, perder pinos de janelas, afrouxar pára-peitos, fincar no jardim, de um dia para o outro, plantas de vários metros que ficam se debruçando na calçada e atrapalhando o trânsito. Além disso, ela queima lâmpadas que é uma beleza, gira antenas só por birra, causa mal-contato em todas as tomadas e vive inventando moda para nos ter lá dentro e prestarmos atenção nela.
Ela ainda vem com um certo poder de telepatia, que nos faz ficar pensando em sua segurança quando viajamos, na roupa que certamente esquecemos no varal, na janela que ficou aberta, e se ela estará bem agora.
Acho que comecei a entender a diferença entre morar em uma casa ou em um apartamento. E o porque os adeptos de uma das opções costumam não se adaptar com facilidade à outra.
Uma casa é um ser vivo, por vezes esquisito. Ela estuda a personalidade dos “outros” membros da família e fica tirando a maior onda com eles. Sabe quem tem medo de ficar sozinho e justo quando a criatura está só, dá um jeito de se contorcer e fazer barulhos que antes não estavam lá. É geniosa. Resolve engolir, de birra, o fio da antena de TV que precisa atravessar a parede do telhado acima de segundo andar e acabou-se. Influencia mentalmente a faxineira até convencê-la a convencer o morador de que o piso não tem mais sinteco e que precisa de cera. Você cede e ganha uma pista de esqui sem neve particular, mas a casa certamente se diverte bastante. Pra se vingar, você se diverte com a casa, que tem tanta prisão de ventre quanto você, e ameaça ignorar o limpa fossa, e até o diabo verde, se a casa não se comportar.
Uma casa sente falta de quem nela vive e vai arrumando companhia para as horas vagas. Ela ensina formigas assassinas a escalar coisas impossíveis (sorte é que as formigas são burras e com freqüência se afogam no liquidificador que ficou de molho ou se empanturram de goiaba e não conseguem descer da fruteira). Uma casa abriga seres no forro e cospe casquinhas de ovos vazias na garagem de manhã cedo, pra nos mostrar que ela não está só, fazendo descaso pela nossa saída. Ela abriga mecanismos invisíveis aos apartamentos, e barulhentos. A caixa d’água, por exemplo, que se diverte fazendo barulhos do além pra cada torneira que se abre e fecha.
A casa ainda é carente à beça. Faz questão de ficar invertendo de lugar torneiras frias e quentes, perder pinos de janelas, afrouxar pára-peitos, fincar no jardim, de um dia para o outro, plantas de vários metros que ficam se debruçando na calçada e atrapalhando o trânsito. Além disso, ela queima lâmpadas que é uma beleza, gira antenas só por birra, causa mal-contato em todas as tomadas e vive inventando moda para nos ter lá dentro e prestarmos atenção nela.
Ela ainda vem com um certo poder de telepatia, que nos faz ficar pensando em sua segurança quando viajamos, na roupa que certamente esquecemos no varal, na janela que ficou aberta, e se ela estará bem agora.
Acho que comecei a entender a diferença entre morar em uma casa ou em um apartamento. E o porque os adeptos de uma das opções costumam não se adaptar com facilidade à outra.
Gisele Lins escreve aqui às quartas. Sempre amou a liberdade de um apartamento, mas confessa que ficou enciumada quando descobriu definitivamente anistiados no forro de sua casa a Mary e o Taca, um casal de maritacas, novas estimações da família. Parece que o gênio difícil da casa está muito conquistando o gênio difícil da Gisele.
4 comentários:
Olá,
Gostei muito do conteúdo e design de seu blog.
Quero propor uma parceria de troca de links com o blog:
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Texto do link: Frases
Caso tenha interesse, entre em contato.
Eu sou uma casa, sempre vivi em uma casa e pretendo prosseguir assim, interagindo com esse "ser vivo" que esta sempre a nos acolher. Nele eu sinto a liberdade, na ausencia do condominio que tole.
Sera que algum dia eu me acostumaria com "o local onde se mora"?
Ja voce... sempre foi rata de apartamento... to vendo que se rendeu :-)
Beijos!!!!
Oi Gisele! Adorei seu texto! Casa é isso tudo mesmo, bem temperamental...
Já morei em casa e depois em apartamento e depois em casa de novo... O que me fez valorizar muito a liberdade que temos em uma casa.
Bjs,
Dani
Gi adorei este texto e é tudo isto mesmo.ah, hj teve aniver da Carol e sentimos a tua falta.
bjocas janaina
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