terça-feira, 7 de outubro de 2008

A grande questão: criar ou ser feliz!?

Eu explico. Desde que comecei a escrever ainda criança, as idéias vinham-me à mente sem pedir licença e sem um processo especial. Não precisava sentar, concentrar-me e dizer para mim mesma: “agora você vai fazer uma poesia”. Não, as idéias vinham e pronto. Só precisava pensar depois, para lapidar, se preciso fosse.

Quando encontrei quem me guiasse, entendi que todos ou quase todos os poetas / escritores criam suas obras em momentos de dor, de sofrimento, seja qual for. Nos momentos felizes não há espaço para criação. Imaginei, então, que a felicidade fosse tão imensa e intensa que não deixava espaço para a criatividade. E penso assim ainda. Nos momentos de alegria, felicidade incontestável, “dá branco”.

Por outro lado, sei que a transpiração, tão falada pelos poetas, é necessária para a criação de obras tecnicamente corretas. Mas só transpirar não adianta, a pitada (ou a colher cheia) de inspiração aproxima a obra do público, pelo sentimento.

Confirmei que a dor traz inspiração por experiência própria. Meus melhores versos foram, sim, em momentos de dor. E depois, sem dor, lendo e relendo o que escrevi na dor, me orgulho da dor que senti. É doido sentir isso, mas é real. E escrever na dor é um passo decisivo para curar-se dela.

Agora vem Rubem Alves e diz “ostra feliz não faz pérola”. Deparei-me com o novo livro de Rubem com esse título. Chamou-me logo a atenção. Ao ler a contra capa, pensei: é a confirmação definitiva de que ou se é feliz ou se cria. A duas situações não acontecem simultaneamente, creio eu. Eu e Rubem Alves. Segue o texto da contra capa do livro em questão. Livro que ainda não li, mas que será um de meus grandes prazeres literários.

“‘Ostra feliz não faz pérola.’ A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: ‘Preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas...’ Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi.”

Angélica quer continuar criando. E também quer ser feliz.

Quer viver uma situação de cada vez, para uma não inibir a outra.

Não dispensa a imensidão da felicidade, tampouco a inspiração da dor.

Um comentário:

Gisele Lins disse...

Angélica você tem absoluta razão. Quando tudo vai bem falta inspiração, quando não, ela transborda.
Adorei!
Um beijão para você!

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