segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Os brancos

O papel em branco é como uma tela nunca antes utilizada, frescos, puros, intocáveis, urgem por sentido, desesperados clamam: vai, vêm, me usa, me desenha, me pinta; me faz ter sentido. E tentamos, invariavelmente e a despeito de todos os fracassos anteriores, tentamos. Pensamos e refletimos, às vezes durante horas, outras, durante minutos e construímos a idéia, maravilhosa, perfeita, completa. No entanto, quando se chega ao papel tudo se transforma, se modifica, a mente não consegue alcançar as pontas dos dedos e estes atuam independentes, escrevem o que querem, não escutam seu senhor, não. O que saí no papel é sempre diferente e enquanto essa transformação acontece a idéia original se distancia, se esvaí. Tudo o que fica está ali, soma dos membros escrivões, aqueles que tudo tocam e do produto mental, intangível, real, etéreo, inalcançável.

É comum acontecer de se ouvir uma música ou ler um trecho de um livro e concluir – já pensei nisso antes – ou ainda – por que não pensei nisso. No fim das contas tudo é idéia, imperfeita ou não, criação própria ou recriação; tudo é válido desde que seja feito para o bem ou até sem propósitos, mas que seja o despejo de algo que te incomoda, que seja a fala escrita, a vontade de se transmitir o que se pensa, mesmo que incompreensível.

Tentamos, erramos e novamente tentamos, lemos e relemos, com a constante sensação de que não era isso, não foi bem assim que pensei. Percebemos que atingir a própria mente é um caminho árduo, áspero, desértico; os dedos não penetram o mundo do invisível, mas continuaremos tentando.


Silvia: Nossa mente, os papéis, as telas, as paredes, todos brancos, esperando, querendo e aguardando as criações. Que venham!

2 comentários:

Sisa disse...

Oi Silvia,
Como eu sempre digo aqui no blog, sempre evito de comentar primeiro. Mas em alguns casos não me seguro. por algum motivo esse texto seu mexeu muito comigo. Pra mim, é o seu melhor até hoje, e olha que eu AMO as aventuras da Anastácia!

Angel disse...

Adoro a forma como vc escreve. Esse texto é poético, sensível, tudo de bom!

Beijos!

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