Adeus minhas banhas. Sim eu sei, nossa amizade é de longuíssima data, mas eu vou abandonar-lhes agora sem pudor e, por favor, sem rancor.
Tantos anos querendo uns quatro quilinhos a menos. Sem pretensões, não tenho perfil para usar uma skinny e ficar legal, mas tenho várias amigas calças, alguns amigos vestidos, poucos amigos terninhos, além do amigo biquíni e do amigo bolso $, é claro, que agradecem demais a partida de vocês.
Sim, eu compreendo que esta é uma decisão abrupta e sem aviso prévio, por isso esta conversa. Vão, deixem-me em paz, vocês estão livres para atormentar a fofura de outros, sigam a luz.
O que? Mas eu também não esperava que isso fosse acontecer. Tudo o que eu queria era uma reducaçãolimentar, juro (cof, cof). Sabe como é, re-aprender a comer, re-adaptar as quantidades para o meu metabolismo de balzaca, evitar palalá de cadique, os tais triglicérides, colesterol, derrame, infarto devido a estresse e super pressão do trabalho, essas coisas (cof, cof). Não, não dava mais, eu vinha avisando, pírula, estresse, cigarro e mais vocês é muito pra minha balada. Fiz um pede pra sair e vocês dançaram primeiro, sinto muito. Consolo? Tem mais alguém na minha mira.
Há não, queridas banhas, não avacalhem na saída, desse jeito. Dignidade aí, né? Concordo que sempre achei meio estranho o cabelo da fulaninha, mas vocês me fazerem jurar que ele até passa pela torta floresta negra da padaria é apelar, hã? E ficar cheirando chocolate em balcão de restaurante, vocês estão pensando que estão fazendo o que comigo? Dignidade! Sigam a luz, seu tempo aqui neste corpitcho acabou, finito.
Não adianta tentar me convencer, é claro que adoro pãozinho quente e toblerone dark, vocês sabem disso, porém, trocar gostosuras por uma tonelada de fibras, linhaça moída, potreína, frutas ácidas, meia cenoura por dia e blá blá blá, eu confesso que tem me feito muito bem. Minhas entranhas reagem diariamente, vocês acreditam no que isso significa pra mim? E, além disso, imaginem só, ando cheia de disposição, coisa que vocês só faziam me sugar. O episódio do vinho? Tudo bem, faz parte, de algum jeito eu teria que descobrir que as minhas duas “cotas semanais de exceções”, quando eu escolhesse o vinho, não poderiam ser consumidas de uma tacada só, quando se vive praticamente de fibra. Tudo tem seu lado bom, descobri que é possível, para o corpitcho, se livrar do que fez mal por mais de um orifício corporal, coisa que eu considerava impossível antes. E agora eu vou dividir as tais cotas, OK? Talvez também nunca mais tomar vinho seja uma boa (cof, cof).
Aqui. Nada de ameaças, tá? Alguns dos tais quatro quilinhos ainda estão aqui, mas vocês estão tendo que deixar o barraco mesmo assim! Ó só, calça caindo, hã? Tchau! Valeu, foi bom, adeus, a velha eu manda lembranças, mas na nova eu, mais saudável (cof, cof), não tem espaço pra vocês. Sem rancor, por favor, adeus também foi feito pra se dizer.
Gisele Lins escreve aqui às quartas. Mais levinha nesta semana (cof, cof).