sexta-feira, 17 de agosto de 2007

As saudades já não cabiam no peito

- “Você não faz porque sabe que não vai passar. Você é muito dependente de mim ainda.”

Foi com com esta afirmação que minha mãe definiu um período super importante da minha vida. Se conhecendo, ela me conhece como ninguém. Sou uma cópia dela, não só fisicamente, mas principalmente o gênio. E ela sabia que, orgulhosa como somos, esta era a frase que ela precisava dizer para me fazer imediatamente inscrever para a seleção do intercâmbio, pra provar pra ela que eu era capaz. A forma mais fácil de me convencer a fazer qualquer coisa é dizer que eu não sou capaz. Uma fúria me movimenta e me leva justamente pro caminho que o manipulador queria que eu fosse.

Um ano depois eu estava deixando pra trás minha mãe com os olhos rasos d´água, minha irmã sorrindo (como ela já tinha feito, ela sabia que as coisas boas que me esperavam eram muito maiores que as saudades dos dois lados) e meu irmãozinho sem entender nada, rumo ao leste europeu.

A Letônia é um país pequeno, lindo, com problemas e belezas particulares. Mas o que tem de mais relevante lá, pra mim, não é a característica peculiar de um país frio demais, nem um país ex comunista. Não é a beleza de Riga, com mais de 800 anos, não é a língua difícil que eu aprendi falar, e muito menos os olhos verdes que me seguem pra todos os lados, com a certeza de que olham uma estrangeira.

O que tem de mais relevante lá são as oito pessoas que eu amo que moram lá. A Mamma, o Tetis (pai), as irmãs Rita, Kristiine, Elita e Inese (agora ainda Rita e Kristiine casadas, com filhos), a Oma e o Opis (vó e vô). São essas pessoas que fizeram um ano especial na minha vida, que me abraçaram, que me compreenderam, que me ensinaram fazer bonecos de neve, que choraram pela minha partida... são essas as maiores riquezas que eu vejo na Letônia.

Quatro anos depois de ir embora de lá, Mamma e Tetis estiveram no Brasil para minha formatura. Agora, cinco anos sem vê-los, e nove sem ver os outros, as saudades já não cabiam mais no peito.

Enquanto vocês me lêem aqui, estarei a caminho da Letônia, em busca de pessoas amadas e de uma nova visão sobre este período da minha vida. Mais madura e mais independente, só busco lá os abraços e os três beijinhos que eu dava em um por um, todas as noites, quando dizia “Ar labu nakti” (boa noite) e que me davam o conforto de saber que, no dia seguinte, lá estariam eles pra me apoiar de braços abertos, me ajudando na adaptação e me fazendo me sentir amada.


Sisa é brasileira e não desiste nunca, muito menos de reencontrar pessoas que ama pelo mundo afora. Promete arrumar um tempinho no turbilhão de emoções que vai estar vivendo pra vir aqui falar com vocês sexta que vem.

11 comentários:

SM disse...

Bem, não sei se a idéia te agrada, mas estou gostando de ler seu blog diariamente. Se não soar estranho demais, gostaria de deixar recadinhos aqui, independentemente de você me conhecer ou não (afinal, na blogosfera as coisas são assim mesmo, né?).
Lendo este seu post pude me lembrar de pessoas importantes que também tive o privilégio de conhecer fora do país. Nacionalismos à parte, o ser humano de bem existe nos 4 cantos do mundo (como se a Terra fosse quadrada... acha? rs). Às vezes ficamos com um pé atrás em terras estrangeiras, mas com o tempo deixamos nossos preconceitos de lado e descobrimos o óbvio: ser humano é ser humano, não importa em que lugar no mapa ele se encontre ou que diacho de língua estranha ele fale... E isso, minha cara, é uma das coisas mais lindas de se descobrir.
Boa(S) viagem(NS)!
Sua mais recente leitora, Simone Maia
http://testadeferro-sm.blogspot.com

Professora Vanessa disse...

Oi, amiga!
Eu me lembro bem desse período!
Cartas e mais cartas escrevíamos uma para a outra, longas cartas que eu guardo com muito carinho até hoje!
Boa viagem!
Beijinhos meus e da Nandinha!

Unknown disse...

OI Sisa!!Nossa, me deu um aperto no peito de ler seu post, parece q vc conseguiu passar pra mim a saudade e a expectativa que vc tinha em relação à este reecontro!!bjs e bom final de semana com sua outra família!

Anônimo disse...

Tarakaans ir traaks!

Paula disse...

Sisa...
Como estou feliz por você poder matar toda esta saudade! Conhecendo você um pouquinho, sei que é puro sentimento; então não devia mesmo estar mais cabendo no peito!
Espero que aproveite mesmo este momento especial que vai viver e lembre-se: saudade é um dos poucos sentimentos que realmente comprovam o quanto as pessoas são importantes e nos fazem falta! Sorte sua vivê-lo!
Bjs, querida!

Anônimo disse...

Também senti o aperto no peito.
Também não desisto de reecontrar pessoas.
Também espero que sempre haja um lugar para onde possamos voltar na certeza de encontrarmos abrigo e colo.
Lindo!

Anônimo disse...

Olá Cecilia!!! Nossa, fiquei com os olhos cheios de lágrimas ao ler seu texto (de novo)... Eu que voltei do exterior há tao pouco tempo deixando lá amigos tão queridos, meio que senti a emoção desse seu reencontro, pois sinto uma falta imensa dos meus amigos e nao vejo a hora de voltar para encontra-los. Engraçado que ontem eu estava no banho e pensando: "Essa hora Cecilia já deve estar com a família dela...". Aproveite muito por ai e claro, tire muitas fotos para nos mostrar depois. Bjs

Aline Bahiense disse...

Emocionante seu texto! Aproveite bem a viagem!bjsssss

Silvia disse...

Incrível, antes de escrever meu recado li os outros e vi que quase todo mundo sentiu a mesma coisa, emoção, saudade, amizade. Ficou lindo mesmo! Boa viagem, depois conte-nos tudo...beijos

Anônimo disse...

Aviso aos navegantes!
A Sisa está muito feliz no meio do nada (hahaha). Mas, nem tudo são rosas na Letônia e ela não consegue postar comentários.
Mandou avisar que mandará notícias pelo blog pessoal dela:
http://sisatrasosmontes.zip.net

bjos e bom domingo para vocês!

Sisa disse...

Aqui estou eu, pessoas! A Letonia nao e no meio do nada, e no meio da Estonia e da Lituania, rs... Agora eu arrumei um computador que da pra ler os posts. Beijinhos!

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