quarta-feira, 12 de setembro de 2007

E na sua vida: você é motorista ou passageiro?

A chamada de uma propaganda logo que abri a revista era essa, escrita não exatamente com estas palavras. Sobre o que era a propaganda? Não sei... Qual era a revista? Não lembro... Parei nesta página, porque comecei a pensar seriamente na frase.

Houve uma época em que tudo que eu fazia era em função do que os outros pensavam ou como resposta a ações dos outros. Aos 19 anos, percebi que isto não teria futuro e decidi que “tomaria as rédeas da minha vida”. Acredito que ser motorista tem a ver com a regência da própria vida e não poderia haver outro maestro na minha.

Desde então, eu me considero motorista da minha vida. Tomei todas as decisões relevantes: minha mãe sempre seria minha melhor amiga; tentaria me aproximar do meu pai até ele ceder (água mole em pedra dura tanto bate até que fura, sabe?); meu primeiro namorado seria o homem que me levaria ao altar; a faculdade que cursaria; o mestrado e o doutorado (sim, foi por opção, pelo menos eu acho rs); tentaria pelo menos manter um peso saudável, em uma eterna luta contra meus genes adiposos; e que, dentro da minha concepção de saudável, buscaria um estilo de vida no qual me encaixasse.

Tomei muitas outras decisões, evidentemente, como todo mundo também tomou. Mas estas foram as que mais direcionaram minha vida. Só que agora, olhando para tais decisões, lembro que eu costumava me imaginar motorista em uma estrada completamente sinalizada, onde eu não correria riscos nem mesmo em uma noite com neblina cerrada. Tudo seria muito previsível e controlado. No entanto, não foi bem assim... Eu, muitas vezes, estive em uma estrada mal sinalizada, sem nenhuma noção de quando seria a próxima curva e para onde ela me levaria (momentos “furacão” pelos quais todas as pessoas passam). O que fazer nestas horas? Não há o que fazer! O conforto era saber que, nestes momentos, fui passageira e que algo maior que eu estava me guiando.

Minha mãe foi, sem dúvida, o maior presente do mundo: amiga, companheira, mãe, alegre, falante de enlouquecer, chorona de comover, forte de surpreender, simples e acessível como uma criança, tranqüila como a própria paz, o maior amor do mundo! Com o meu pai, definitivamente o destino resolveu dar um baile em mim: tentei tudo, tudo mesmo que se pode tentar, desde os meus 14 anos, mas ele é uma pedra muito dura e a água um dia parou de bater (foi no meu casamento, quando não o vi lá, mesmo o tendo convidado contra a vontade de todos os que me amavam, pois sabiam que eu poderia me magoar e não era dia para isso - mas não me magoei, simplesmente entendi: ele tinha feito uma opção e eu então cedi). Casar com o primeiro namorado parece uma decisão insana, mas foi tomada ao longo de 8 anos de namoro, contados através de uma história normal, como a de muitos outros casais, porém cheia de amor, de respeito e de cumplicidade, e até agora está dando certo rs, com quase dois anos e meio de casamento.

Escolhi a faculdade sim, mas esta foi uma estrada sem sinalização, pois só tive certeza mesmo no final (depois que passou Eletromagnetismo rs), e olha que já era a segunda tentativa! O mestrado já passou e me orgulho muito dele e de cada vez que surtei, achando que não terminaria; porém, o doutorado é outra história, será uma longa caminhada em que ainda estou nos primeiros passos, muita água pode rolar por baixo da ponte e o encaro como mais umas daquelas estradas pouco sinalizadas, mas tentando me apegar ao fato de que é um investimento em mim para o futuro profissional (ninguém sobe uma escada em um único passo, não é?), para não escapar demais.

Ah, os danados genes adiposos, estes me deram muito trabalho na adolescência, hoje estão sob certo controle, mas não descuido deles, porque seria bem mais fácil se eu não fosse uma formiga... Já a minha concepção de saudável veio primeiro porque precisava controlar o peso, mas depois percebi que havia mais por trás disso: havia um estilo de vida. Acho saudável aproveitar o sol da manhã, dormir pelo menos 8 horas por noite (embora nem sempre seja possível), ter uma alimentação balanceada, fazer exercício físico regularmente (metabolismo lento + genes adiposos = gigante vermelha), evitar os famigerados e adoráveis doces, me preocupar apenas com o que realmente vale a pena (confesso que estes eu ainda não consegui cumprir...) e fazer amizades verdadeiras (sei o quanto elas são importantes e fazem qualquer estilo de vida saudável).

Disso tudo, sabe o que concluí? Não pude ser motorista a viagem toda. Nem tudo que decidi aconteceu da forma como previ. E que bom, pois teria ficado muito cansada, esgotada na verdade... É bom, às vezes (mas só às vezes), poder sentar no carona e observar a paisagem, mesmo que seja a da minha própria vida! Hoje, sou motorista grande parte do tempo, mas me dou ao luxo de ser passageira!

Até a próxima!


Paula tem 27 anos, adora ouvir a mesma música e assistir ao mesmo filme até enjoar; descobriu que ainda tem muito a aprender sobre a vida e sobre si mesma. Mas já sabe que na vida será ora motorista, ora passageira... Escreve aqui toda quarta-feira.



11 comentários:

Professora Vanessa disse...

Oi, Paula!
Seu texto é maravilhoso, emocionante e tem muito a ver com a minha história: pai, casamento com namorado de longa data, mãe amiga... Aliás, aposto que qualquer uma que ler seu texto vai se reconhecer em algum momento, porque , definitivamente, é impossível ser motorista o tempo todo e há também, além do "luxo", uma certa necessidade de se deixar guiar às vezes! ADOREI!!! (GOSTARIA, INCLUSIVE, DE TRABALHAR SEU TEXTO COM OS MEUS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO. POSSO?! É que além de interessante, ele está super bem escrito!
Beijos!
Vanessa.

Gisele Lins disse...

Puxa, paula, seu texto é emocionante. Fiquei arrepiada lendo sobre sua mãe e seu pai.
Parabéne e obrigada!

Anônimo disse...

É isso mesmo, temos que conduzir nossas vidas, mas há momentos em que "deixa a vida me levar" faz bem e também nos faz aprender quais os melhores caminhos a seguir, quando nós formos os motoristas de nossas vidas.
Parabéns pelo texto!
Abraços.

Anônimo disse...

Paula, seu texto foi comovente. As vezes, fazemos questao de sermos motorista a vida toda, quando se nos dessemos a oportunidade de sermos mais passageiros, talvez chegassemos mais felizes ao final da linha. Beijos

Advokete disse...

Confesso que hoje eu bem que queria ser passageira por mais tempo. Mas tenho sido motorista em tempo integral e acho que vai ter que ser assim por algum tempo. Tomara que a estrada não esteja muito acidentada! :-)

Andrea disse...

Paula,

Bárbaro seu texto! E percebi que somos mesmo muito parecidas. Eu também tento, sempre, planejar e gerenciar minha vida. E sempre quis ter pleno controle de tudo. Depois, fui vendo que era por demais racional e que precisava relaxar um pouco, ser um pouco "passageira", como você falou.

Isto tem me feito muito bem, tenho ficado mais solta, mais leve, o fardo a carregar, menos pesado. Dirigir o tempo todo cansa...

Claro que é bom ter planejamento e controle, isso, em geral, faz bem. Mas cheguei à conclusão de que tudo que é em excesso faz mal, até o controle e a racionalidade com que levava minha vida.

Beijo grande.

Unknown disse...

Quem dera mais pessoas soubessem o que estão fazendo aqui e pelo que querem ser lembradas.
Eu admito que sou passageira na maior parte do tempo, mas embora não tenha o controle sobre minha vida, tento viver dentro dos meus ideias.
Excelente Paula!

Sisa disse...

Oi Paula,
Eu sempre fui obcecada pela idéia de ser motorista. Sempre odiei pessoas decidindo por mim. Mas olhando pra trás, eu vejo que minha vida me levou sozinha pra maioria dos lugares que eu estive. Considerando que cada um deles foi decisivo pra minha história, quero crer que existem alguns lugares e situações que precisamos viver. Se não formos com as nossas pernas, a vida nos pega à força e nos leva pra lá...

Angel disse...

Oi Paula. Seu texto é ótimo. Ora passageiro, ora motorista, isse também acontece comigo. Quando o cansaço bate, como hoje, quero só observar a paisagem...
Parabéns!
Angel

Paula disse...

Vanessa,
Essa história de vida, (in)felizmente é muito comum rsrs. O lado bom é a identificação com as pessoas! Pode usar o texto à vontade! Que bom que gostou!

Gisele,
Obrigada! As nossas lembranças de pai e de mãe são sempre as mais intensas, pelo menos até termos nossos filhos, não é?

Marina,
O "Deixa a vida me levar" faz parte, senão não dá para agüentar a pressão rsrs!

Viv,
Você está certa, se a gente se deixa conduzir (só às vezes rs) cria menos expectativas e acaba mesmo mais feliz no final!

Laeticia,
Determinada como você parece ser, não importa a estrada, você chegará no fim! Mas vou torcer para que sua estrada seja menos acidentada rs!

Andréa,
Viu como somos parecidas rs? Que bom que tenho a sorte de ter uma amiga como você! Obrigada!

Milena,
Este é o objetivo: traçar uma linha e tentar segui-la! Perfeito! Você certamente vai ser muito feliz!

Sisa,
Sei que você é obcecada rsrs e esta é uma característica fantástica! O melhor é você saber que, às vezes, a vida vai te levar pelas pernas rsrs!

Angel,
Obrigada! Acho que isso deve acontecer com muita gente, não é? A vida tem suas razões que nem sempre conhecemos, então o melhor mesmo é observar nestas horas!

Pessoal,
Obrigada mesmo! Para quem leu e comentou e quem somente leu! Bacana saber que nem tudo que sai da caixola é bobagem rsrs! Este blog está fazendo muito bem para mim!

Anônimo disse...

Olá Paula,eu sou Júlia aluna da Vanessa,componente do drepente30.
Ela trabalhou seu texto na minha sala,eu sinceramente A-D-O-R-E-I..
Me identifiquei muito com ele.
Quer sabe o que seu texto é???
Um ESPETACULO!!!!
Até mais..beijos...

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