Quando eu era criança, eu pensava que minha mãe era a Mulher-Maravilha. Era impressionante como ela resolvia todos os problemas do mundo. Se aparecia uma barata em casa, ela corajosamente dava uma chinelada nela e pronto – eu estava salva. Quando eu tinha problemas nas escola, era só ela fazer uma visitinha e tudo se resolvia. E se não resolvesse, ela me dava aulinhas de defesa pessoal (“Da próxima vez que a coleguinha te morder, morde ela também”), pro pavor das professoras. Se os coleguinhas riam de mim porque enquanto todo mundo comia chips e refrigerante na escola, eu levava bolo ou sanduíche, fruta, com suco ou vitamina, ela me confortava: “Eu quero que você cresça forte e saudável, e comer bem é importante pra isso. As mães dos seus coleguinhas preferem não ter trabalho e comprar porcaria pronta pra eles.” E ela era tão fantástica que mesmo assim, uma vez ela deixou a gente levar pra merenda um tubo de leite condensado!
Uma vez eu fiquei frustrada, porque a professora disse que se eu girasse um disco de Newton, ele ficaria branco. Colori pacientemente o disquinho com as cores do arco íris, coloquei na radiola e tudo que eu vi foi um borrão colorido. Aí mamãe chegou, viu minha frustração, me levou ao consultório dela e explicou que tinha que girar mais rápido. Colocou no motorzinho e lá estava meu disco branco! Melhor que isso só quando ela me deixou levar os amiguinhos ao consultório para verem também. Ela arrumou um substituto para meu cachorro morto antes que eu tivesse tempo de chorar. Minha mãe era a mãe mais legal, que deixava a gente brincar com balão de água, montar acampamento no quarto dos fundos... eu matava meus amigos de inveja. Minha mãe é mais legal que a sua, porque a minha mãe é a Mulher Maravilha.
Mas aí eu entrei na adolescência e vi que as coisas não eram bem por aí. Eu via que os maiores problemas do mundo não eram baratas e radiolas. E a maior parte deles, ela não tinha sequer o poder de resolver. Aí algumas pessoas do AFS, na época, tentaram cancelar minha viagem já marcada pra Letônia. A leoa que existia dentro dela se manifestou, ela ligou pro AFS inteiro e conseguiu resolver a situação. Aí outros tentaram me impedir de tirar o passaporte. Processo pra cá, mandato de segurança pra lá, e o passaporte ficou pronto. Eu precisava de um visto pros EUA pra fazer escala, aí o visto foi negado. Marcaram uma entrevista daquelas que a gente sabe que comparece só pra levar um não na cara. Eu só tinha forças pra chorar, ela olhou pra mim e falou, firme, “Fica calma. Eu vou resolver isso”. E eu lembro de ter respondido “Ahh mamãe, eu sei que isto não está ao seu alcance. Eu já percebi que você não é a Mulher Maravilha...” Alguns telefonemas mais tarde, ela já tinha falado com o cônsul, explicado tudo, e poucos dias depois meu passaporte estava na minha mão com o tal visto. Pelo jeito, ela ainda era a Mulher Maravilha da minha vida.
Só que mais problemas vieram. Problemas financeiros, ela se decepcionou com algumas pessoas, tomou rasteira de mais outras, foi diagnosticada com depressão, aí eu finalmente concluí que ela não é mesmo a Mulher Maravilha, por mais que eu gostasse desta idéia. Aquela mulher brava que se impunha a todos foi dando lugar a uma outra, irreconhecível, mansa, tranquila. E eu naquela época achava que isso era um sinal de fraqueza, não uma conquista que os anos proporcionaram a ela. Tive que começar a conviver com outra mulher, que chorava, que tinha problemas, que muitas vezes não sabia qual caminho tomar e que batia mesmo de cara com a parede, tendo que voltar e tentar de novo. Mais estranho foi perceber que esta mulher, mais frágil, mais humana, sempre existiu. Era eu que não via. E quando eu passei a ver isso, vi que na verdade saí no lucro. Troquei uma mãe que era a Mulher- Maravilha por outra, que é uma maravilha de mulher.
Uma vez eu fiquei frustrada, porque a professora disse que se eu girasse um disco de Newton, ele ficaria branco. Colori pacientemente o disquinho com as cores do arco íris, coloquei na radiola e tudo que eu vi foi um borrão colorido. Aí mamãe chegou, viu minha frustração, me levou ao consultório dela e explicou que tinha que girar mais rápido. Colocou no motorzinho e lá estava meu disco branco! Melhor que isso só quando ela me deixou levar os amiguinhos ao consultório para verem também. Ela arrumou um substituto para meu cachorro morto antes que eu tivesse tempo de chorar. Minha mãe era a mãe mais legal, que deixava a gente brincar com balão de água, montar acampamento no quarto dos fundos... eu matava meus amigos de inveja. Minha mãe é mais legal que a sua, porque a minha mãe é a Mulher Maravilha.
Mas aí eu entrei na adolescência e vi que as coisas não eram bem por aí. Eu via que os maiores problemas do mundo não eram baratas e radiolas. E a maior parte deles, ela não tinha sequer o poder de resolver. Aí algumas pessoas do AFS, na época, tentaram cancelar minha viagem já marcada pra Letônia. A leoa que existia dentro dela se manifestou, ela ligou pro AFS inteiro e conseguiu resolver a situação. Aí outros tentaram me impedir de tirar o passaporte. Processo pra cá, mandato de segurança pra lá, e o passaporte ficou pronto. Eu precisava de um visto pros EUA pra fazer escala, aí o visto foi negado. Marcaram uma entrevista daquelas que a gente sabe que comparece só pra levar um não na cara. Eu só tinha forças pra chorar, ela olhou pra mim e falou, firme, “Fica calma. Eu vou resolver isso”. E eu lembro de ter respondido “Ahh mamãe, eu sei que isto não está ao seu alcance. Eu já percebi que você não é a Mulher Maravilha...” Alguns telefonemas mais tarde, ela já tinha falado com o cônsul, explicado tudo, e poucos dias depois meu passaporte estava na minha mão com o tal visto. Pelo jeito, ela ainda era a Mulher Maravilha da minha vida.
Só que mais problemas vieram. Problemas financeiros, ela se decepcionou com algumas pessoas, tomou rasteira de mais outras, foi diagnosticada com depressão, aí eu finalmente concluí que ela não é mesmo a Mulher Maravilha, por mais que eu gostasse desta idéia. Aquela mulher brava que se impunha a todos foi dando lugar a uma outra, irreconhecível, mansa, tranquila. E eu naquela época achava que isso era um sinal de fraqueza, não uma conquista que os anos proporcionaram a ela. Tive que começar a conviver com outra mulher, que chorava, que tinha problemas, que muitas vezes não sabia qual caminho tomar e que batia mesmo de cara com a parede, tendo que voltar e tentar de novo. Mais estranho foi perceber que esta mulher, mais frágil, mais humana, sempre existiu. Era eu que não via. E quando eu passei a ver isso, vi que na verdade saí no lucro. Troquei uma mãe que era a Mulher- Maravilha por outra, que é uma maravilha de mulher.
Sisa, 28 anos, teve a sorte de ser filha da melhor mãe do mundo. Mesmo com quase 30 anos, sempre corre pro colo dela pra tomar umas gotinhas de amor materno, que sempre servem como vacina pras tristezas do mundo.
15 comentários:
Nó Cecília, ficou liiiiiiindo! Pode começar a escrever o livro da sua vida, tenho certeza que vai ser emocionante e maravilhoso lê-lo, beijos, Silvia.
Esse aí teve uma vida inteira de inspiração. A melhor parte é que a mãe também é minha!
Você anda mesmo inspirada ultimamente em!!!! Cada vez um texto melhor, ficou maravilhoso!!! Parabéns
Cecília...
Coisa mais linda este texto; que bela homenagem a sua mãe!!!
Acho que, quando somos crianças, realmente nos apegamos a ídolos e fantasiamos bastante (normal, criança tem que ser assim). O mais fascinante da sua história é que, mesmo tendo crescido e enxergado sua mãe, o seu ídolo, como ela é de verdade, você a amou mais ainda! Sorte a de vocês partilharem amor tão lindo!
Estou muito emocionada!
Beijos.
Fiquei na dúvida de quem eu quero ter inveja...
Se por um lado, é bom ser a mulher maravilha, imaginem ter como mãe a própria e ainda disponivel para resolver todos os problemas....
Na verdade o que a Sisa tem como mãe, é uma FORTALEZA DE CRISTAL.
dura, linda, transparente e fragil que até uma pequnina pedra, pode causar um enorme estrago.
Parabéns as duas e todos os a cercam.
Sisa,
Que linda sua homenagem pra sua mãe!!! Que lindo que você a teve como Mulher-Maravilha e agora a tem como uma maravilha de mulher!!! Tenho certeza de que ela é mesmo.
É muito bom a gente poder perceber todo o amor, todo o carinho e valorizar a relação que temos com nossa mãe, nosso pai quando eles ainda estão pertinho da gente.
Parabéns!
Beijos.
Hoje já estou tendenciosa às lágrimas. Depois desse texto, então... Lindo, lindo, lindo! A Carolina deve ter se derretido ao ler esse texto. E com razão.
Parabéns pela mãe maravilhosa e pela sua homenagem a ela.
Bjos
Angel
Cecília,
Agora que consegui dispensar o lençol que me secava as lágrimas,posso comentar. A única certeza que sempre tive na vida é a de que queria ser mãe. Eu sentia que nasci para a maternidade. E ao mesmo tempo tinha medo de que não fosse uma mãe à altura da missão. Mas Deus, sempre tão generoso comigo, facilitou demais a minha vida. Deu-me filhas que sempre foram fonte de alegria, estímulos, forças, fé, saúde e esperanças.É claro que às vezes eu tinha vontade de matá-las, por que vocês duas sempre foram muito atrevidas e geniosas (não sei a quem sairam). Mas se eu era a mulher maravilha era porque as tinha como fadinhas "Sininho" com seus pós de pirlipimpim tornando a minha existência mágica. E a vida é tão sábia, que quando os problemas começaram, as fadinhas já tinham condições de entender e apoiar a mulher frágil que existe em todas as mulheres-maravilha. E vcs não decepcionaram, foram muito além das expectativas.Hoje, todos os bons sentimentos persistem, acompanhados de um orgulho muito grande pelas filhas que tenho. Sei que Você e sua irmã farão a sua parte para tornar o mundo melhor. Sei que vocês semearão respeito, amor, ética e humanidade, e que os frutos serão bons. Os que me cabem, já os tenho colhido com fartura. Porque essa grande Paz que eu sinto agora me é dada pela certeza que eu realmente tenho filhas maravilhosas, que estarão sempre ao meu lado, não importa a distância em que se encontrem.
É nessa hora que a gente tem a exata dimensão da importância do amor em nossas vidas.
Meu namorado mandou eu vir aqui. Vim. Beijos!
Sisa,
Não conseguir conter as lágrimas...primeiro porque sei exatamente como você se sente, eu também tive uma Mulher-maravilha e hoje tenho uma maravilha de mulher como mãe; Segundo porque seu texto está super bem escrito, emocionante, faz a gente refletir e pensar em nossas vidas.
Engraçado como a idade e a maturidade faz a gente enxergar as pessoas como elas realmente são, mas acredito, também, que essa transformação de mulher-maravilha para maravilha de mulher se dá quando nossas mães percebem que não precisam mais cuidar de seus filhos, que podem relaxar, que podem deixar que a gente se defenda sozinho e comecem a se preocupar mais com seus próprios problemas.
Quando a depressão da minha mãe foi diagnósticada, há 4 anos, e ela passou a ficar frágil e certas vezes dependente de nós (seus filhos), eu achava que era porque ela não tinha o que fazer, mas hoje eu tenho certeza que ela carregou um fardo pesado demais a vida inteira e que agora, com os filhos crescidos (os mais novos com 25 anos), ela pôde, enfim, chorar, se entristecer, ter problemas, precisar de carinho, pois antes nada disso fazia parte de sua vida, ela era uma Mulher-maravilha.
Hoje, no dia em que completo 28 anos, fui a uma capela e agradeci pela minha vida e, principalmente, pelo maior presente que a vida me deu: minha mãe. Que ela continue sempre sendo uma maravilha de mulher, pois é por ela que eu procuro ser uma pessoa melhor a cada dia.
Abraços,
Marina.
Queridas Cecília e Laeticia.
( Esta história vocês ja conhecem, mas vou contá-la aqui)
Muita gente fica horrorizada, quando digo que conheci Carolina pela internet.De uma certa maneira, foi. A história foi a seguinte: Conversava com a Imaculada, cunhada de Carolina, sempre numa sala de bate papo, de nome "coroas". Só o nome, porque sempre nos considerávamos ainda jovens...rsrsrs.Imaculada, que mora em Viçosa, convidou a mim e meu marido para irmos lá e conhecer a família.Depois de tomarmos nossa decisão resolvemos ir. Que perigo, todos diziam...Mas Savio e eu fomos.
Chegamos em Viçosa numa noite de sexta feira 16 de março de 2000.
Imaculada e Renato, nos esperavamos na entrada de Viçosa.
Abraços, cumprimentos, fomos para a casa deles.Foi uma noite de conhecimento externo, porque internamente ja sabiamos de tudo das nossas vidas.Teclavamos sempre. Uma amizade da internet. No dia seguinte, Imaculada fez um almoço, porque era aniversário do Savio. Ela então em apresentou uma pessoa que eu ainda não conhecia.
- Prazer, disse eu para Cecília. (que estava morando em Viçosa, fazendo faculdade). Lembro bem das palavras dela.
-"Você vai gostar de conhecer a minha mãe ". Vou te apresentar. Trocas de e mail, e chamei no ICQ, na época era o programa de bate papo.Com um nome ficticio, começamos a nos conhecer. Cecilia, Carolina e eu.
Nessa época também nesse programa coroas, conheci Mary e apresentei à Carol e aImaculada. Foi uma integração total. Nós 4. Carol, Imaculada, Mary e eu.
Carolina nos chamou para ir a Nova Lima. Convidou mary, que morava em São paulo, Imaculada, sua cunhada, iria também. Mary veio para o Rio e fomos, Mary, meu marido e eu...
malas prontas para Nova Lima.
Desse dia até hoje, foi um vai e vem...Formaturas, casamentos, aniversários, férias...Rio, São Paulo, Viçosa e Nova Lima.Nossas familias se conhecem. Nossos filhos sabem de tudo que acontece lá e cá.Gente, vou parar senão fico toda vida escrevendo.
Cecília e Laeticia, isso tudo foi para dizer, que conheci uma Carolina forte,alegre, chorona,brava, mas acima de tudo AMIGA.
Querida amiga, foi um prazer ter conhecido você.Agora somos família.Para você a poesia que fiz, não sei quando mas você já conhece.
Um beijo e um abraço do tamanho da estrada que separa o Rio de Nova Lima.
CAROL,MENINA,CAROLINA
QUE PE�A � ESSA?
QUE N�O CORR�I AO TEMPO
QUE ENFRENTA TEMPESTADES
QUE LIDA COM V�RIAS IDADES
QUE SABE SENTIR D�
QUANDO FALA DE SEUS XOD�S?
� FILHA
� M�E
� AMIGA
SE METE AT� EM BRIGA...
SE RESSENTE...
POIS � GENTE!
GENTE CLARA
TRANSPARENTE
TEM CORA��O PARA AMAR
� MULHER,AINDA MENINA
O NOME DELA?
CAROLINA!
NOSSA AMIGA ESPECIAL
�S FORTALEZA DE CRISTAL!
Esse foi definitivamente seu post mais bonito mesmo!
A Carolina é tudo de bom =)
bjos
Amei seu texto! Tanto tu quando a tua mãe são inspiração para relacionamenos sadios, com os outros e com a gente!
Beijos!
Rê
Tão lindo.
Confesso que chorei.
Adorável como vc.
Beijas!!!
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