quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O Valor da Palavra

Ando preocupada e indignada com a falta de palavra das pessoas. Parece uma calamidade, sabe? Muitas pessoas (muitas mesmo) se traem e não conseguem sustentar em pé o que acordaram sentadas. A gama de exemplos é vastíssima!

Semana passada, por exemplo, uma consulta minha foi desmarcada na véspera (terça-feira), pela própria secretária da médica. Na ocasião, ela me disse: “Quinta-feira a doutora volta e eu ligo dizendo o horário em que ela atenderá você”. Já achei absurdo isso, porque não estou à disposição da “doutora”, mas enfim, melhor a secretária ligar e eu acertar um horário bom para mim com ela. Até ontem, nada de secretária me ligar... Fiquei imaginando se fosse algo sério e não apenas uma consulta de rotina...

Outro dia, meu sobrinho de 8 anos me perguntou porque certa pessoa dizia que consertaria um problema em um de seus joguinhos e nunca consertava. Mais ainda: ele estava cansado de esperar! Acabou que meu marido arrumou (tios sofrem rs). Para mim, apesar de o objeto do combinado ser apenas um joguinho, foi algo muito grave! É péssimo dizer a uma criança que fará alguma coisa e não fazer, porque ela acredita e espera! Além disso, lá se vai mais um mau exemplo, o de que palavras não significam nada e podem ser ditas a esmo, e a uma esponjinha que absorve tudo!

Há muitos outros exemplos: vou entregar sua encomenda em tal dia (que nunca chega); vou emprestar tal coisa que vai te ajudar (e você espera sentado); vamos economizar para comprar nossa casa (e lá se vai dinheiro em mais futilidades); pode contar comigo sempre que precisar (mas evite precisar); “prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida” (com a quantidade de divórcios no país, nem preciso comentar esta) e por aí vai. Tem promessas e compromissos para todos os gostos!

Às vezes acho que estou sendo severa demais com as pessoas (vai ver estou envelhecendo e ficando chata, ou mais chata rs), mas a questão é que, se eu me comprometer com alguém, vou honrar o compromisso! Saber que minha palavra tem valor é importante para mim, é prioridade, faz parte de quem eu sou.

Eu considero compromisso, promessa, ou como queira chamar o ato de empenhar a palavra, uma decisão que tomei e preciso arcar com suas conseqüências! Não conseguiria viver tranqüila sabendo que alguém espera de mim algo que não farei... E preciso desta consciência tranqüila para viver.

Pensando bem, não estou sendo severa demais! Esta falta de valor atribuído à palavra atualmente, falta de caráter mesmo, transcende os limites do convívio social, de um profissional pôr em prova sua credibilidade ou de uma pessoa desapontar uma criança. Tem a ver com cidadania (ou melhor, com a falta dela) e culmina em eventos como a triste tragédia encenada pelo Senado semana passada, envolta em falta de decoro, de vergonha na cara, de palavra mesmo! Ou não deviam os senadores representar e defender os estados da federação (o povo, em última instância) e não a si mesmos?

Acredito que se cada um cumprisse mais o que se propõe a fazer, se sentiria mais à vontade em clamar por seus direitos, ficaria inclusive mais indignado. As palavras deixariam de ser vazias e seriam ouvidas; afinal, não foi por isso que a natureza nos presenteou com dois ouvidos e apenas uma boca? Para que ouvíssemos mais e falássemos menos e, de preferência, o que fosse relevante?

Até a próxima!


Paula tem uma visão romântica do mundo e acredita que as pequenas mudanças podem alterar o todo consideravelmente. Está atordoada com o curso do país, com a apatia do povo e com a falta de importância que se dá a um compromisso, porém, ainda crê que palavras têm valor e podem ser ouvidas! Escreve aqui toda quarta-feira.



6 comentários:

Sisa disse...

Oi Paula,
Tenho que admitir que às vezes prometo alguma coisa e não cumpro. Mas juro que no meu caso não é falta de caráter, tá? É LERDEZA mesmo! Por isso que sempre falo pras pessoas me lembrarem e cobrarem!
Bjs

Professora Vanessa disse...

Ei, Paula!
Muito bom o seu texto! Infelizmente essa questão é muito comum no nosso dia a dia e acabamos nos acostumando com o errado e até agindo assim também. Acho que tem a ver com esse tal jeitinho brasileiro, sabe?! Mas concordo com você: é necessário nos policiarmos. Valeu o puxão de orelha!
Beijos!
Vanessa.

Andrea disse...

Paulinha!

Seus textos são a sua cara! Eu começo a ler e já vejo que são seus, antes mesmo de chegar no final, onde diz quem postou.

É, é uma pena, mas em nossa sociedade é mesmo assim: a palavra não tem valor. Lembro que minha avó falava que no tempo dela (1900 e bolinha...), quem desse sua palavra, assumisse um compromisso e não cumprisse ficava extremamente mal visto, podendo ser até banido da sociedade! Hoje em dia, não mais.

Pra ter idéia do ponto em que chegamos: minha mãe foi internada no hospital, em conta particular (foi uma emergência e o plano de saúde dela não cobria aqui). Na hora da internação, o médico dela me disse que havia conversado com a diretoria do hospital explicando o caso e que eles haviam se comprometido a dar "um super desconto". Ouvi isso 3 vezes, em 3 ocasiões distintas. Após o falecimento dela, fui negociar a conta. Cadê o desconto? Não querem dar dar. O funcionário do financeiro disse que eu tinha que ter pedido um papel, com tudo por escrito e assinado pelo diretor e pelo médico. Pode??! Eu achei que eles tivessem palavra!!! Eu achei que cumpririam com o prometido!!! Eu achei que eles fossem como eu, que, com certeza, manteria o que havia dito "àquela pessoa que estava internando um ente querido, numa hora difícil". Mas não, eles mostraram que não têm palavra. E infelizmente a maioria das pessoas é assim: mente, omite, muda de idéia, com a cara mais deslavada do mundo...

Parabéns pelo excelente texto!

Beijos.

Angel disse...

Paula,
Realmente é bom lembrar que o silêncio é melhor que meia verdade. Todos nós devíamos nos empenhar em sinceridade e clareza e tb ensinar isso ao próximo, quem sabe a realidade se modifica, mesmo que lentamente. E vc está fazendo isso. Parabéns!
Angel

Unknown disse...

Também acredito no valor da palavra...
O meu único problema é que memória não é meu forte.. rs
Muito bom Paula!

Paula disse...

Ah, Sisa!
Sei que a vida é corrida, que as pessoas estão sempre a mil e que as coisas escapam, mas fazer isso por de modo leviano ou doloso é o que me preocupa. Sei o caráter que você tem, menina!

Ei Vanessa,
Não foi puxão de orelha não rs, eu só ando meio passada com essas coisas e resolvi escrever. Sei bem que o danado jeitinho brasileiro é terrível e que fica difícil lutar contra ele rs.

Oi Andréa,
Ainda bem que os textos se parecem comigo, tinha medo de usar máscaras na hora de escrever, sabe? Eu admiro muito o tempo de nossos avós por isso (entre outras coisas), porque era mais fácil de se confiar e assim a vida era melhor! Agora, lamentável o que aconteceu com o hospital... Depois de tudo que sua mãe, você e sua família passaram... Absurdo! É neste contexto que fico mais indignada com a falta de palavra das pessoas!

Oi Angel,
Obrigada! Acho que se cada um fizer sua parte e cuidar do que é seu, ainda temos chance, não é?

Oi Milena,
Sei dos problemas de memória rsrs, estou começando a sofrer com lapsos de branco total! O importante mesmo é sua essência!

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