Parar de me procurar por aí.
Continuar conhecendo e reconhecendo as Ângelas, os Joãos e os Adílsons, continuar me encantando por eles, mas aprender que são, e sempre serão as Ângelas, os Joãos e os Adílsons, mas não eu.
Continuar achando todo mundo lindo e continuar achando lindo todo mundo me achando doida por achar todo mundo lindo.
Não me apaixonar por todo mundo que eu acho lindo, ou não.
Usar mais chapéus e menos roupas.
Parar de querer aprender a domar o tempo. Simplesmente esquecê-lo, ignorá-lo e coroar o Momento meu grande mestre e rei.
Brincar mais, brincar muito e rir, fazer bolhas de sabão, sorrir para quem eu nunca vi. Sorrir muito.
Não criticar. O egoísmo, o individualismo, a falta de consciência e de amor das pessoas, suas buscas desenfreadas pela simples sobrevivência, sua falta de curiosidade e coragem e originalidade, sua mesmice, seu medo de encontrar-se e de encontrar àqueles que sabem ver, seu medo de viver, sua falta de sonhos e de palavras, sua falta de toque, de olhares e de um doce silêncio cúmplice, sua falta de risadas, e de tempo para contar histórias, sua falta de histórias.
Não criticar. Eu mesma. Por muito mais que os outros.
Ser cientista. Continuar querendo salvar o mundo, pelo menos o meu. Continuar tendo horror ao Prêmio Nobel e idolatrando o maior prêmio que alguém pode ter: a sensação de ter realizado aquilo que algum dia sonhou.
Sonhar muito. Ainda mais. Sonhos loucos e engraçados quando dormindo e ainda mais loucos e engraçados quando acordada.
Fumar e pensar menos, mas não abandonar completamente meus vícios, pois pessoas totalmente sem vícios são muito chatas.
Continuar amando meus amigos, o velhos, os novos, a família, os que ainda nem conheço, os que não vejo, mais ficaram aqui dentro. Aprender a demonstrar-lhes o quanto eles são os espelhos da minha alma e o quanto sou vaidosa e orgulhosa por tê-los.
Continuar amando tanto e parar de tentar convencer-me a ser aquilo ou aquele que amo.
Continuar amando meu caleidoscópio e continuar tentando convencer-me a ser ele, porque ele pode.
Ler mais. Ainda mais. Muito mais. De tudo.
Parar de procurar e preocupar-me com o Futuro. Primeiro porque ele já é bem grandinho e sabe se cuidar, segundo porque o Futuro é um bichinho verde que se esconde nas frestas do assoalho e só pode ser encontrado quando damos com a cara no chão ou quando assim, meio por acaso, rolamos deliberadamente com quem amamos, com o cachorro ou com os piás.
Assumir sem culpas que prefiro ser a bruxa malvada à Cinderela, o Gargamel a um smurf, a Madame Mim ao Tio Patinhas, a Cuca à Narizinho (se bem que a Dona Benta também me gusta), o Coiote ao Papa-Léguas (e que estou ficando velha, lembrar de assumir, curtir e parar de dizer isso).
Assumir sem culpas que prefiro viver em altos e baixos, como as batidas do coração, como um diafragma, como as estações, as gestações, as pálpebras, os tímpanos, a música, o caminhar, as marés, os orbitais, do que em um eterno e mormacento equilíbrio, imóvel como a própria morte.
Escrever. Começar a escrever, continuar a escrever e manter a caixa de diálogo comigo mesma sempre aberta e on line.
Aprender a aprender o que vale a pena. Aprender a esquecer o que não merece ser aprendido, ou lembrado. Rezar muito, e urgente, para ter o dom de saber diferenciar um do outro.
Descobrir, finalmente, o comprimento de onda ideal para elevar-me a um estado triplete excitado e fluorescer (ou quem sabe florescer) em seguida. Aprender, porém, a jamais esquecer que se algo der errado no caminho, sempre haverá a chance de uma interconversão entre sistemas, resultando em uma fosforescência de bônus, que, se não foi o planejado, será linda igual. Tudo depende dos spins, afinal, que acho que têm vontade própria em mim, ainda bem.
Gisele Lins escreveu outro texto para hoje, mas tropeçou neste antigo e viu que “2004” poderia muito bem ser “2007” ou “1994”. O que ela quer é exatamente o mesmo, o que mudou são as escolhas e a voz que ela às vezes escuta: - “tens feito as melhores delas?” (e que tem mandado calar a boca).
9 comentários:
Que delícia de texto! Li e reli várias vezes...
bjs
Que máximo seu texto, Gisele! Incrível tê-lo achado e sorte a nossa por compartilhá-lo!
Parabéns!
Ótimo texto, perfeito, completo.
Que bom lê-lo.
Bjos
Angel
Oi Gi,
Tem coisa mais gostosa que achar texto antigo? A gente se revive, se analisa, coloca na balança o que era, o que é, o que quer ser... Que legal ue vicê dividiu isso com a gente.
Beijos
Gisele,
seu texto é básico,que nem bolsa de mulher de trinta! Perfeito! AMEI! Um abraço,
Vanessa.
Lindo mesmo Gi!!!
Beijos,
Fafá
Impressionante como nós amadurecemos, aprendemos, vivemos e nossa essência não muda, não é mesmo?
Esse texto é maravilhoso flor!
Pois é, gente! Mí, não muda mesmo. Todos os dias um joelho esfolado da minha criança e um dramalhão qualquer da minha adolescente mostram um pedacinho na minha vida e chego à conclusão de que a essência não muda mesmo. Bem que eu tento me convencer do contrário, e bem que eu queria muito ter este poder, mas... Não dá.
Adorei o "bolsa de mulher de 30", hahaha! por curiosidade fui dar uma conferida na minha e vi que, tirando a chave do carro e uns cartões a mais, o resto está lá, igualzinho...
É, acho que nem preciso pegar minhas agendas de mil anos atrás pra ver que a essência é a mesma!
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