sábado, 22 de dezembro de 2007

Diário de bordo

Então é Natal, fim de ano de novo, um ciclo se completa mais uma vez…

Será mesmo?

Apesar de adorar a função de comprar e dar presentes, da comilança especial, e da família reunida, eu detesto a imposição de que este é o fim de um ciclo, de que temos que repensar a vida, fazer o balanço do ano, exalar hipocrisia e tal. Todo o dia é dia pra se colocar na balança e repensar a vida, pra rever as escolhas e querer recomeçar, fazer diferente.

Então, de certa forma eu me nego a falar sobre isso hoje e, ao invés, prefiro fazer um pequeno diário de bordo, com impressões, frases e idéias estranhas, que me ocorrem ao voltar para Londres apos oito anos. Digo “de certa forma” porque vai acabar soando como um balanço, um ciclo que se fecha. De fato o é, não pelo natal e bla bla bla, mas sim pela história da minha própria vida.

Impressões 1: O pseudo-inglês. Van Campinas-Guarulhos. Conheço o cara. Conversa trivial. Descubro que mora em Londres e trabalha no mesmo bairro que mora meu irmão, para onde vou. É um Sênior vice-presidente de uma empresa de I.T. (information technology) e define seu emprego como sendo bom (deixa claro que bom é seu emprego, não a empresa em que trabalha). Divorciado, filhos pré-adolescentes, simpático sem segundas intenções. Fala da decepção de não poder ser turista nos lugares maravilhosos que conhece. Fala demais do que tem. Fico em dúvida se é necessidade de impressionar ou se tudo é tão comum para ele que não percebe o valor que transmite as coisas e situações quando fala delas. Oferece-me seu cartão. Sobrenome estranho, sotaque estranho, origem indeterminada. Oferece sua casa recém-construída na Grécia para eu levar minha família. Convida-me para uma cerveja em Londres. A conversa termina sem fim. Eu lendo e ele escutando música. Despedida educada no aeroporto (ele segue de primeira classe pela companhia aérea inglesa) e reforço do convite para uma cerveja. Coincidências e pessoas estranhas (como eu) neste mundo.

Impressões 2: A excursão: todos uniformizados. Camisetas branco e rosa muito coloridas e chamativas. O grupo me rodeia e ocupa todos os lugares de uma fileira de bancos na qual eu antes estava sozinha, lendo. Como me sinto? Sofro a vingança de todos os mosquitinhos que tranqüilamente passearam pela cuba da pia do meu banheiro e que, sem motivo algum, eu tive o prazer inexplicável de abrir a torneira e vê-los descendo no turbilhão da água. Ah, sim, agora sei o barulho e o susto, vou lembrar da próxima vez. Fato estranho: pelo menos outras três excursões desfilam com a mesma camiseta, a pequena solta a campeã da noite estressante no aeroporto: “mãe, se a gente tá com a camiseta pra não se perder, como vamos saber que não estamos justamente nos perdendo e indo junto com o grupo errado?

Impressões 3: Da estranheza. A estranheza que causa uma pessoa escrevendo a caneta, em um caderno espiral, no saguão de um aeroporto (ou em qualquer outro lugar) nos dias de hoje. Se eu não fosse eu, juro que até sentiria vergonha, veja o absurdo, mas o prazer da diferença supera disparado este quase-sentimento.


Gisele Lins esta feliz de férias, com a família reunida, gritaria e bagunça pela casa. Surpreendida com o tanto que Londres foi capaz de mudar em oito anos e o tanto que ela própria mudou tão pouco, prefere congelar a cabeça e o coração com o frio que faz lá fora. Escreve aqui aos sábados e espera muito ver a neve desta vez.

3 comentários:

Angel disse...

Tomara que você veja a neve!
E que sua férias tenham muitas surpresas boas!
Adorei o texto! Conta mais, tá!
Beijos!

Paula disse...

Oi Gisele!

Boas férias! Vou torcer para que você veja a neve! Eu nunca vi, masé uma coisa que tenho muita vontade de fazer!

Beijos e Feliz Natal.

Sisa disse...

Oi Gi!
Aproveite MUITO as ferias! Lembre-se de curtir MUITO Londres porque se tudo der certo, em maio voce vai estar e em Nova Lima (reuniao das Mulheres de 30, hein) e vai desejar nunca ter saido de Londres mais, hahahaha...

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