quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O outro lado da moeda

Fui criada por um pai muito machista, e por causa disso desde muito cedo, acho que a partir dos 12 anos virei feminista de carteirinha. Nunca consegui me enxergar naquela modelo de que mulher faz isso e homen faz aquilo. Desde cedo gostava de experimentar coisas de menino, como jogar futebol, lavar o carro, brincar de 'Jaspion'. Mas nunca fui completamente 'tomba-homem', também gostava de brincar de boneca, fazer bolo e admirar os posters do Menudo ou Dominó que minhas irmãs tinham no quarto.

Quando me casei a preocupação dobrou, porque sempre tive pavor da função 'dona de casa', não que eu não possa ajudar nos trabalhos domésticos, mas tinha pavor de que essa função fosse ser só minha. Gracas a Deus, casei com um norueguês, aqui na Noruega o feminismo chegou talvez bem antes do que no Brasil, então o meu marido já foi criado por uma mãe que era atenta para essas coisas. Desde novinho meu marido já tinha uma função na cozinha, assim como minha cunhada e cunhado também tinham. No Brasil é muito comum, infelizmente até hoje, que os meninos sejam criados completamente diferente das meninas. As meninas aprendem a cozinhar, arrumam a casa, lavam os pratos, enquanto os meninos geralmente não fazem nada dessas coisas, é triste (sei que está começando a mudar, mas ainda é assim na maioria das familias)!

Mas para mim uma coisa do feminismo que é muito importante, é que a idéia principal é que homens e mulheres tenham direitos iguais. Mas essa igualdade tem que ser dos dois lados, e não só do lado que interessa a nós mulheres. É que tem muita mulher que acha que os homens devem aprender a cozinhar e a lavar os pratos, cuidar das crianças mas elas mesmas nem pensam em aprender a trocar o pneu do carro.

Nunca gostei muito da idéia de ser 'mulher florzinha', aquela mulher fresca que precisa de um homem literalmente pra tudo. Aqui em casa a gente divide todos os afazares domésticos, quer dizer todas as 'coisas de menina'. Mas aí vem o outro lado da moeda... eu também ajudo nas 'coisas de menino' que tem que ser feitas em casa. Aqui, por exemplo, por causa da neve, todos os pneus do carro tem que ser trocados 2 vezes por ano (pneu de inverno e pneu de verão), imagina é a maior trabalheira. Então quis estar junto quando ele estava trocando, ajudando no que fosse possível e aprendendo para uma próxima vez. Também troco e instalo lâmpadas. Uma vez, iamos mudar de apartamento, mas era no mesmo prédio, do primeiro para o terceiro andar. A gente já tinha empacotado tudo mas estava só esperando aquele amigo chegar pra ajudar a carregar as coisas pesadas. Bom, como esse amigo só ia poder chegar mais tarde, a gente começou a carregar as coisas menores, o processo acabou indo rápido e de repente a gente só tinha as coisas 'pesadas', daí pensei... bom a gente pode tentar. Acabei descobrindo que uma geladeira não é uma coisa tão pesada assim, conseguimos levar até o terceiro andar sem problemas. E assim foi indo, fomos levando todas as coisas e a única coisa que eu não consegui ajudar levar foi a máquina de lavar roupas (também pudera , eu sei que os homens tem mais massa muscular do que a gente, e eu não estou querendo competir neste quesito). Outro episódio que aconteceu há um tempo atrás, foi que estávamos reformando o quintal, o caminhão com pedras que a gente tinha encomendado, não conseguia passar no portão, então eles tiveram que jogar as pedras na calçada mesmo. A gente tinha que carregar as pedras para o quintal com uma certa urgência, pois já estava começando a atrapalhar o trânsito. Meu marido e meu cunhado começaram a carregar as pedras com um carrinho de mão. E eu lá me sentindo meio inútil, até que mais uma vez tomei aquela decisão, não custa nada tentar não é? Então pensei que eu podia encher o carrinho de mão e eles podiam carregar para o quintal. Pois não é que deu super certo? Colocar as pedras no carrinho não era difícil nem pesado, e o trabalho comecou a render, acabou indo tão rápido... e eu estava lá feliz da vida. Cada vez que jogava uma pá de pedra no carrinho pensava: 'isso é que é mulher de tôpa!' . No final estava satisfeita, pois acredito muito que é assim que tem que ser, a gente tem que dar para poder receber!


Liz acredita que as mulheres tem que deixar de ser 'florzinhas' e perder o medo de experimentar as coisas de meninos. Depois de ter carregado geladeira e pedra, está convencida de que as mulheres realmente podem dominar o mundo.

5 comentários:

Paula disse...

Eu também não gosto deste rótulo de florzinha, Liz. Sexo frágil não, sou apenas sensível rsrs!
Sou do tipo que pinta parede, aprende a encher pneu, vai à oficina e até arrisco trocar um pneu caso fure!
Este tipo de independência não tem preço!

Gisele Lins disse...

Liz eu me considero anti-florzinha tb, e o que me assusta é que as pessoas ainda se surpreendem (e ás vezes rola até um preconceito) com mulheres que se viram bem por aí.
Se os homens da Noruega já são diferentes, como é a reação com as mulheres diferentes por aí?
Muito bom o texto! Um beijão!

Anônimo disse...

Don't ask me to prepare anything for dinner, only if you still want to walk away from the table on your own two feet, rs.
However I have a drill and I'm skilled using it. I'm planning to buy a saber saw with blades ... hm, or perhaps I'll find it under Christmas tree?!
Bjos.

Angel disse...

Eu sou adepta da independência feminina e da colaboração dos casais. Seu casamento deve ser muito legal. Penso que o melhor da união é dividir, tudo o que for possível.
Como a Paula disse, florzinha não, sensível.
Beijos!

Sisa disse...

Ahh eu dentro de casa também faço tudo, desde cozinhar, cuidar das coisas com aquele jeitinho de mulher, mas também trocar resistência de chuveiro, lâmpada, furar parede... Tudo que precisar. Quando minha mãe me ensinou que era importante ser independente, ensinou também que independência significa independência de pessoas que façam essas pequenas coisas também. Não adianta ser independente financeiramente mas tomar banho frio porque não sabe trocar resistência né?

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