sábado, 27 de outubro de 2007

Sobre a época mais feliz da minha vida

Eu acredito que escutar pedaços sem sentido de conversas alheias seja um dos mecanismos mágicos que o universo usa para nos mostrar coisas que precisamos. Não me envergonho de assumir que gosto de prestar atenção nelas, afinal, os ouvidos não têm pálpebras.

Ontem foi um dia surreal no meu cotidiano. Um feriado municipal permitiu que eu tivesse um dia livre que é dia útil para as outras cidades, portanto, perfeito para quem mora no interiorrrrr ir pra cidade grande resolver perrengues pendentes. Acordar às cinco da manhã me estressa, ter que gastar um feriado com perrengues me estressa, filas me estressam e burocracia me estressa. Logo cedo, percorrendo a fila do passaporte em direção ao fim, escutei um pedaço de conversa de algum ilustre desconhecido: “... foi a época mais feliz da minha vida...”. Nem mais nem menos.

Muitas horas depois foi que eu me dei conta que esta frase ficara guardada em mim o dia todo, junto com uma pergunta sendo gerida: “e para mim, qual foi a época mais feliz da minha vida?”.

Depois de “fazer amigos” na aquela fila da polícia (e de me dar conta que hoje costumo conhecer pessoas em filas, em baladas, em bancos), de passear a pé com eles pelo centro de uma cidade semi-desconhecida, de entrar em lojas, só por entrar, mas tendo dinheiro para comprar se eu quisesse, de encontrar o presente perfeito para uma amiga, de conseguir as cordas para o violão que eu decidi aprender a tocar, de me perder a pé, e depois me encontrar, resolvi voltar para casa. E numa estrada linda, sozinha, dirigindo meu próprio carro, cantando com plenos pulmões junto com o som nas alturas, a resposta da pergunta que eu nem tinha percebido que estava lá bateu no retrovisor: é hoje, é agora a época mais feliz da minha vida.

Ainda que sufocada com tantas responsabilidades e tão pouco tempo sobrando, ainda que num período de extrema irritação, onde uma “barraqueira” que eu não sei de onde veio anda tomando conta de mim, ainda que reclamando mais do que devia, e querendo, muito, mas muito mais, eu nunca antes tive a certeza de ser esta a minha melhor fase.

Não tem preço ser independente, fazer as próprias escolhas, saber o que se quer, e do que se gosta. Não tem preço “ligar o dane-se” para o mundo e saber que ele não vai acabar por isso, nem eu, ou fazer as pazes com um amigo por escolha e ficar muito feliz. Estar à espera das minhas primeiras férias de verdade, do Natal com a família, que está longe, mas está em paz. À espera da cavalgada na lua cheia de amanhã, de aprender a fazer torta laite de maçã e de descobrir onde (raios!) fica a plantação de cogumelos que dizem existir por aqui. Mesmo com saudades de muitos amigos e lugares, mas com a certeza de que os que realmente se importam estão lá, me esperando, para que quando nos encontrarmos seja como se fosse desde ontem, apenas, que nós não nos víamos. Quero muito mais, mas não tem preço me dar conta, assim meio por acaso, de que o meu hoje me basta, e vai além, e me faz ter certeza de ser o melhor dos meus hojes.

Eu quero muito mais, mas não tenho mais medos, e receios, e inseguranças sobre tudo o que eu quero. A minha espera top, de ontem em diante, passou a ser daqui pra frente, de vez em quando, me dar conta que o agora é a época mais feliz da minha vida, com tudo de desafiante e estressante, mas com tudo de maravilhoso que ele possa estar contendo na ocasião.


Gisele Lins está meio pasma, mas feliz em finalmente se dar conta de que ser feliz não envolve coisas estrambóticas, e é, ao contrário, quase uma questão de escolha. Ela hoje escolheu ser feliz e escreve aqui aos sábados.



4 comentários:

Angel disse...

Oi Gisele,
Também acredito que escolhemos ser felizes. Às vezes é difícil, mas é perfeitamente possível.

Sua foto está um show!
Bjos!

Sisa disse...

Às vezes me pego pensando se esta é a época mais feliz da minha vida. Eu costumo identificar as top 10, rs. Mas a top top nunca consegui falar. Tenho muitas épocas muito importantes na minha vida. E se por algum motivo hoje em dia me sinto insatisfeita, nunca me falta gente pra lembrar que no meio de muita gente que não tem ocupação e de muita gente que também não tem as coisas materiais que eu gostaria de ter (gostaria, coisa material nunca foi minha obsessão), o que eu tenho vale muito: fazer o que eu mais gosto. Quanta gente se dá esse luxo? De qualquer forma, minha época atual está entre as top 10.

Unknown disse...

Que lindo Gi!
Agora que consegui comentar.

Para mim, salvo raríssimas excessões a época mais feliz é semmpre hoje. É sempre agora. Mas o ontem e o que ficou para trás também são bons e tem o seu gostinho especial.

O mais legal disso tudo é que eu me dei conta que estou muito feliz por participar do melhor momento da sua vida! (até agora)!
bjos!

Paula disse...

Oi Gisele.
Dizem que a felicidade a gente não busca e sim vive; sendo assim, o hoje deveria ser a fase mais feliz sempre. Tudo bem que tem época que é dose, mas no geral concordo que descobrir a felicidade no hoje é o caminho para viver em paz. Você conseguiu!
Concordo com a Angel, maior estilosa sua foto!
Beijos.

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