Recebi mensagens lindas de Ano-Novo. Percebi uma certa prevalência de algumas idéias que não são novas, mas que não eram comuns nessas reflexões, que me chamaram a atenção: a idéia de que as coisas não vão mudar com a virada do ano, e principalmente, a idéia de que os responsáveis por tudo em nossas vidas, o bom e o ruim, o que gostamos ou não, somos nós mesmos.
Apesar de ainda sentir como se fosse agosto, e não o antepenúltimo dia de 2007, tenho refletido muito sobre a vida, e aqui dentro também vejo a prevalência de um pensamento: se um gênio aparecesse e eu pudesse escolher uma, e apenas uma coisa para conseguir mudar, seria certamente a minha relação com o tempo.
Recebi mensagens lindas de Ano-Novo. E não mandei nenhuma, muito menos de Natal. Este ano não deu tempo. E isso é aterrorizante.
Em outra categoria, de importância infinitamente menor, mas muito marcante: neste mês apareceu meu primeiro cabelo branco (quer dizer, pelo calibre e tamanho do monstrengo já fazia tempo que ele estava lá, foi apenas quando o viram pela primeira vez e quando ele foi imediatamente assassinado). De lambuja, meu terceiro pentelho branco também veio morar com a família (tá bom, dois eu até achava charmosinhos, mas três ja é catástrofe). E isso é aterrorizante.
Passo a vida correndo, amarrada à lista de pendências intermináveis. Sou uma das pessoas mais organizadas que eu mesma conheço, mas simplesmente não é suficiente. Vivo na última hora, descabelada por cumprir coisas que na maioria das vezes fui eu que escolhi fazer. O tal Senhor Tempo me arrasta pelos cabelos ao longo da vida (que está passando, tic-tac) e se diverte com o meu desespero e com a minha gastrite (bomba-relógio, tic-tac).
Eu sei, eu sempre soube, que como todo o resto na vida essa relação conturbada é responsabilidade minha, o que eu não consigo, e já faz tempo que venho tentando, é descobrir o que é que estou fazendo de errado? Estes dias me peguei com inveja (euzinha, com isso????) das pessoas que parecem administrar muito bem as suas vidas. E isso é aterrorizante. Alguém me disse que talvez eu não esteja priorizando de forma adequada. Ora, por favor, por acaso é uma escolha (ou falta dela) passar meses sem dar notícias para um amigo querido que está longe? Viver com as unhas que poderiam ser capa do filme Jogos Mortais? Sentir o tempo passar e ver que eu estou deixando para trás muito do que amo, do que gosto de fazer, do que me dá prazer, por não conseguir administrar este maldito tempo?
Eu quero ter minha caixa de e-mails limpa, minha agenda de telefones atualizada, quero poder escrever mais sobre tudo e para todos, quero cuidar das minhas plantas, quero cuidar de mim, cozinhar comidinhas saudáveis, ir à academia, ter as unhas lindas, ler, ler muito mais, como antes, sentar na cozinha e tomar café, papeando até cansar com meus amigos, mandar cartas, ouvir música, sair para dançar, terminar projetos com antecedência, não me atrasar para compromissos (ou para dar uma carona), brincar com os meus piás, poder ficar um dia inteiro empernada de amorzinho, tudo isso sem me sentir culpada, sem sentir como se eu estivesse (e geralmente estou) deixando de fazer algo importante para isso. Eu quero mandar cartões de Feliz Ano-Novo, e ainda pelo correio, mas, principalmente, quero que todos que eu amo saibam o que acontece comigo e que eu saiba como eles estão, como se sentem e o que comeram ontem.
Gisele Lins deseja um 2008 lindo para todos. Para si mesma deseja que aprenda a lidar com o tempo, para que no ano que vem, todos saibam de seus desejos. Ela escreve aqui (sempre na última hora) aos sábados.